Com este corpo o espírito que o anima.
Já me não prendem dúvidas; fujamos
Do vil cárcere: a morte só é termo
Da vida, — da existência não... No íntimo
D'alma o pôz Deus, o sentimento vivo
Da eternidade.
Almeida Garrett
Mito, lenda e tradição, existe narrativa de que, na derradeira noite, véspera de ser executado, Sócrates recebeu a visita clandestina de alguns discípulos seus. Haviam aliciado a guarda do cárcere e abriram as grades da masmorra. Vieram de junto dele e avisaram que estava livre para fugir, porquanto um barco o aguardava às margens de um rio das proximidades. E que tudo, assim, propiciava a que vivesse o quanto quisesse perante o exílio.
Nisso, surpreso daquilo que presenciava após os julgamentos a que fora submetido e condenado, causava surpresa os que propunham que buscasse a vida e a liberdade perdida de pouco.
- Face da condenação perante as leis de Atenas, resta que a elas submeta os meus sonhos de habitar a carne e aceite de bom grado o cumprimento sagrado das determinações impostas pela comunidade. Nenhum instrumento sobrará de que seja contraditório o que sentenciaram, pois.
- Mas, Sócrates, terás a chance de demonstrar a razão dos teus ensinos sábios, pelos quais ora sofres injustamente – argumentam os seguidores fieis. - Sabes do quanto podes contribuir ao futuro da juventude e à esperança do povo, causa principal de teus esforços de orientar as populações com método e consciência. Precisas viver, sobreviver a tudo, jamais render homenagens ao fim, ao desaparecimento.
- Alto lá, Sócrates não morre! – revidou cheio de eloquência. – Podem destruir este corpo, no entanto nunca eliminarão a essência de mim, da realidade definitiva da existência, o ser ciente que significa verdade e que impera na alma da pessoa e necessita tão só do conhecimento a chegar à Luz; esta, sim, a porta da plena Liberdade .
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