de Pádua Campos Filho, uma das mais geniais.
O velho mestre da objetividade extrema atravessava a cavalo povoação do Cariri, quando rajada inoportuna de vento lhe arrancou o chapéu, que caía rolando sobre o solo empoeirado deste chão sertanejo. Seguia em frente qual se nada houvesse acontecido. Porém se viu advertido por morador das imediações, que chamou sua atenção em face da ocorrência:
- Senhor, senhor, olhe, seu chapéu ficou pra trás.
Nisso, e sem demonstrar o menor constrangimento, mas compreendendo o que ouvia, apenas, indiferente, olhou na direção do chapéu que ficara abandonado na estrada, e disse:
- Deixa lá. Eu só quero quem me quer – prosseguindo faceiro na direção aonde cavalgava.
...
Doutra feita, diante de um vendedor de loja de produtos agropecuários, buscava adquirir algum veneno de matar ratos. Indagou o preço, coisa e tal, até demonstrar que queria comprar a mercadoria. Mas o moço que lhe atendia dividiu-se em responder também a outro freguês. Quando regressa de volta na direção de Lunga, lembra a negociação inicial e pergunta:
- Sim, Seu Lunga, o senhor vai levar o veneno? Quer que embrulhe?
E o personagem das impaciências antológicas, assim já meio aborrecido com a desatenção do caixeiro, simplesmente respondeu:
- Não, vou levar não. Eu vou é trazer os bichinhos pra comer aqui mesmo no balcão da loja.
...
Época de chuvas em manhã de sol aberto, e tirava algumas goteiras, quando ali passava vizinho bisbilhoteiro e perguntou:
- Tirando umas goteiras, não é, Seu Lunga?!
De sangue quente do calor e da função que desempenha, por cima impaciente com perguntas desnecessárias, o personagem respira fundo, muda de atitude; nisso, começa a pisar as telhas da residência de forma brutal, quebrando-as com vontade, e revida:
- Tirando, não. Eu tô é aumentando as goteiras que já existem, não tá vendo?!
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