No ano de 1969, chegavam os
primeiros sinais de televisão ao Cariri, e um pai de família alegava, em alto e
bom tom, que não queria televisores em sua residência porque nela só entrava
quem ele permitia, expressando assim o motivo que lhe levava a prevenir que
recebesse na sua sala intrusos trazidos pela programação televisiva.
Naquele tempo, fase mais tímida
do ponto de vista dos quilos tecnológicos de equipamentos de som desenvolvidos
nos turnos posteriores, havia menos facilidade para que clandestinos invadissem
as intimidades com os esturros tribais dagora.
A paz auditiva de hoje virou
gênero de primeira necessidade e raro de obter, máxime as legislações
estabelecidas e pouco respeitadas.
Armas perigosas, possantes caixas
de som dominam os ares, sob os olhos das autoridades responsáveis pelo assunto,
sobretudo movidas a interesses comerciais e doses etílicas eufóricas vaidosas dos
fins de semana. Para onde a pessoa se vira, o bicho corrosivo espreita, nas
artérias centrais das cidades, nos parques de diversão, terreiros das bodegas,
mercearias e bares, permitidos ou não. Carrões dispõem das traseiras cheias de
maiores capacitores lesivos, por transportar os elementos do delito com inteira
permissão financeira. Invadem lares pelas frestas de portas e janelas, pelas
telhas, basculantes, combogós, narizes, bocas e poros, quais insetos cruéis da
civilização desses bárbaros modernos agressivos.
Espécie de infecção promulgada
nos costumes tortos, isso representa vibriões do tipo psicológico de tortura.
Poucos escapam, nas bolas de mato que ainda restam das florestas destruídas. Neurose
informe comprime dedos eletrônicos sobre gargantas, cabreiras, impotentes, de
um mundo zoadento, em forma de epidemia atual. Existissem apenas os altos brados
dessa poluição estrondosa, inconveniente, algo sobraria para agradecer aos
céus.
No entanto, de quebra, vai junto
outro fator, a estridente má qualidade das peças que transmite a deslavada
sem-cerimônia. Talvez por conta disso, ou a título disso, o projeto da música
brasileira desapareceu num abrir e fechar de olhos. Até dizer que o que se
grava na mídia merece o nome de música deixa a deseja quanto aos valores estéticos
e morais.
No auge do desrespeito impune, circula,
entre outras violências contemporâneas, um cidadão médio refém da acomodação a
que se rendeu e dorme sobressaltado, para sonhar na praça da aldeia das festas
interioranas, época quando avaliava poder determinar que lhe chegasse à sala de
visita tão só quem permitisse, do alto de sua ingênua cordialidade, desfeita na
força da Era Industrial.
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