Na tradição popular, existem histórias que perpetuam através dos
séculos registros da vida de Jesus os quais passam de geração a geração,
suprindo lacunas bíblicas e enriquecendo a imaginação das pessoas de detalhes
instrutivos quanto à presença do Mestre divino entre os humanos.
Uma dessas lendas, sem origem definida, por exemplo, narra o episódio
da fuga para o Egito, ocasião do morticínio das crianças praticado a mando de
Herodes, capítulo abominável daquele período.
Ao notarem a estrela que nascera no Oriente, os reis magos haviam se
dirigido a Jerusalém à procura do Rei dos Judeus. Com suas estadas na
capital da província, segundo Mateus, Herodes perturbou-se e toda Jerusalém
com ele. Por isso, chamou os magos e pediu que voltassem de Belém e
trouxessem as notícias de onde nascera Jesus, para que ele também pudesse
adorá-lo.
Após as palavras do rei, puseram-se a caminho. E a estrela, que tinham
visto no Oriente, ia adiante deles, até que, chegando ao lugar onde estava o
menino, parou. Ao ver a estrela sentiram grande alegria, e entrando na casa
viram o menino com Maria, sua mãe. Prostraram-se, adoraram-no e, abrindo os
cofres, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra (Mateus, 2, 9-11).
Avisados em sonho, no entanto, os magos deixaram de atender ao
soberano.
José, por sua vez, depois de receber avisos de um anjo, pegou Maria e o
Menino, e com eles fugiu na direção do Egito.
Nesse meio tempo, vendo-se enganado pelos magos, Herodes mandou
executar todas crianças de dois anos abaixo, nascidas em Belém e suas
proximidades.
No transcurso da longa viagem, ainda em solo palestino, a Família
Sagrada se aproximava de uma barreira policial. Mediante a revista de todos
viajantes, aflita, Maria ouviu em si a voz do anjo lhe dizia:
- Passe com a verdade!
Quando abordados pelos romanos, que indagaram do conteúdo do cesto que
transportava na lua-da-sela da montaria, ela respondeu:
- Aqui vem uma criança.
Ao ouvir a resposta, os guardas se entreolharam e prorromperam numa
sonora gargalhada, enquanto um deles considerava em altos brados:
- Caso fosse mesmo uma criança o que levaria nesse cesto jamais teria a
coragem de revelar.
E permitiram que
eles continuassem a jornada sem qualquer objeção.
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