quarta-feira, 10 de julho de 2013

Ficções de anonimato

Observo na televisão, num desses programas de meio dia, moço estirado no chão tosco de bairro periférico, cercado de gente aflita e de policiais. Escapara por pouco de linchamento, flagrado em delito revoltante; bermudas, joelhos maiores do que a cabeça, chinelas japonesas, feições transtornadas, olhos esbugalhados. Imagino a folha corrida que o espera, na ocasião de ouvir seu passado escrito nas máquinas em rede. Seres humanos vigiados tornamo-nos todos. Alguns mais perto, outros a longa distância, porém objetos de acompanhamento e investigação permanente da sociedade plenipotenciária dos dias científicos.

Dentre as histórias dos tempos revolucionários há notícias das perseguições a Che Guevara por meio de satélites. Seguiram as marcas que ele deixava nas selvas latinoamericanas, registrando o roteiro por causa das três pedras utilizadas de pequeno fogão noturno, que aprendera da campanha chinesa de Mao Tsé-Tung, no qual aquecia o alimento. Apagadas as chamas, contudo, o calor das pedras seria captado por satélite em raios infravermelhos. De tal modo lhe acompanharam, até que pereceria em ponto estratégico, sob as miras do exército boliviano.

Alarmada que informações na internet cairão nas malhas das agências mundiais de espionagem, moeda de dominar pessoas e lugares, a grande maioria desconhece o poder de controle da atualidade, isso qual houvesse real e absoluta privacidade a quem quer que fosse. Na hora do cidadão nascer, recebe registro e, com isso, ganha o primeiro número. Daí segue até a certidão de óbito, no longo curso dos algarismos que obriga percorrer o itinerário de condições populacionais, na Geografia econômica.

Países privilegiam dados supranacionais e os trabalham, cotidianamente, junto a comércio, indústria, agricultura, pecuária, segurança, transportes, migrações, alimentação, abastecimento, ilusão galopante pois pretender que exista reduto isento às tramas e aos poderes do Estado tentacular.


Admiração com que respondem a tamanha estrutura resta só na cota dos sonhos de liberdade da raça, já nos primórdios escondida em cavernas, joguete que fora dos fenômenos desconhecidos e misteriosos da Natureza. A ninguém, no entanto, é dado ignorar a lei, no axioma do Direito positivo. Entretanto, a lei jamais ignorará os seus cidadãos. 

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