Observo na televisão,
num desses programas de meio dia, moço estirado no chão tosco de bairro
periférico, cercado de gente aflita e de policiais. Escapara por pouco de
linchamento, flagrado em delito revoltante; bermudas, joelhos maiores do que a
cabeça, chinelas japonesas, feições transtornadas, olhos esbugalhados. Imagino
a folha corrida que o espera, na ocasião de ouvir seu passado escrito nas
máquinas em rede. Seres humanos vigiados tornamo-nos todos. Alguns mais perto,
outros a longa distância, porém objetos de acompanhamento e investigação
permanente da sociedade plenipotenciária dos dias científicos.
Dentre as histórias
dos tempos revolucionários há notícias das perseguições a Che Guevara por meio
de satélites. Seguiram as marcas que ele deixava nas selvas latinoamericanas, registrando
o roteiro por causa das três pedras utilizadas de pequeno fogão noturno, que aprendera
da campanha chinesa de Mao Tsé-Tung, no qual aquecia o alimento. Apagadas as
chamas, contudo, o calor das pedras seria captado por satélite em raios
infravermelhos. De tal modo lhe acompanharam, até que pereceria em ponto estratégico,
sob as miras do exército boliviano.
Alarmada que informações
na internet cairão nas malhas das agências mundiais de espionagem, moeda de dominar
pessoas e lugares, a grande maioria desconhece o poder de controle da
atualidade, isso qual houvesse real e absoluta privacidade a quem quer que
fosse. Na hora do cidadão nascer, recebe registro e, com isso, ganha o primeiro
número. Daí segue até a certidão de óbito, no longo curso dos algarismos que obriga
percorrer o itinerário de condições populacionais, na Geografia econômica.
Países privilegiam
dados supranacionais e os trabalham, cotidianamente, junto a comércio, indústria,
agricultura, pecuária, segurança, transportes, migrações, alimentação, abastecimento,
ilusão galopante pois pretender que exista reduto isento às tramas e aos poderes
do Estado tentacular.
Admiração com que
respondem a tamanha estrutura resta só na cota dos sonhos de liberdade da raça,
já nos primórdios escondida em cavernas, joguete que fora dos fenômenos
desconhecidos e misteriosos da Natureza. A ninguém, no entanto, é dado ignorar
a lei, no axioma do Direito positivo. Entretanto, a lei jamais ignorará os seus
cidadãos.
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