terça-feira, 18 de novembro de 2025

Sons da noite


Lá de longe, enquanto parecem dormir, os mundos insistem dizer das lembranças guardadas numa persistência de causar espanto. O silêncio veste seu traje de aparente cumplicidade, pois deixa que lhe invada o eito, trazendo de volta tudo aquilo largado pelas calçadas do Universo, isto numa só consciência, acordada bem nesta hora. Misto de emoção como vidas que circulam nesse pequeno espaço das gentes, algo impõe existir dalgum modo a concretude nos quadrantes do Tempo. Assim sorrateiro, segue o ser. Transcende os instantes ao custo de escutar entre as sombras o crivo de presenças vindas nem sabe de onde, que preenche a noite e desfaz das ausências detalhes esquecidos a meio de tantos escombros e visões.

Tropel de quantos seres, sabe-se, na distância, o fervilhar dos habitantes desses reinos infinitos das atitudes, e percorrem largos roteiros; são as histórias aqui contadas aos céus pelos entes encapuzados, vultos vadios, trazidos pelos riscos da solidão sem par. Desconhecidos de tudo, porém afeitos aos mesmos sóis de antigamente, vagueiam nos dias quais senhores de si, sem, no entanto, reconhecer a que vieram.

Visagens do inexistente, pisam o solo da imaginação feitos almas penadas das próprias ansiedades, todavia. Peças de engrenagens até então indefinidas, transitam as paisagens abissais no auge do desejo perene das buscas inevitáveis do que ainda ignoram, e alimentam de sonhos as dúvidas inscritas no coração. Alimárias de rebanhos deixados ao relento, aceitam, entretanto, conduzir discernimentos de procuras no aberto dos destinos da imensidão.

Ao que, outrossim, lhes restam os pensamentos e as palavras, animais selvagens dessa floresta sagrada aonde, certa feita, houve de recontar todos seus haveres e desfazer no mistério donde vêm as dores d outras amarguras, pedaços dos arvores preservados a ferro e fogo no altar de plenitudes tão só sustentadas no fervor das lendas que guardam. Seres e sons, viventes das horas perdidas e dos gestos da procura; percorrem o transe da humana indagação, e aceitam, destarte, tocar adiante o longo intervalo desta era que lhes coube assistir.  

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