Qual quem faz jogos de uma grande loteria a céu aberto, assim vagam soltos nos ares os humanos. Supõem e jogam ao sabor dos ventos, ao afã de continuar vivos no decorrer das existências, quem sabe? Viajam, pois, entre si, instrumentos de uma imensa festa, a sós, submissos aos desvãos dessas paredes que têm os labirintos abandonados. Afeitos diante dos julgamentos sucessivos dos outros, padecem do senso crítico a que são passíveis, vilões a meio dos santos libertos. Desfazem planos, reconquistam empreendimentos e suportam sobreviver nas fases constantes de seriados intermináveis.
Tais heróis de si próprio, vadeiam impávidos pelos corredores
acesos dos transes à toa dessa gente. Usufruem, vezes sem conta, das
consequências e das horas, intrépidos, galantes, sórdidos, mordazes, mesmo
assim peças inevitáveis de um quebra-cabeças monumental das circunstâncias.
Disso, trazem no íntimo da pureza os heróis e o vigor das aventuras errantes.
Com isto, sustentam a memória de todos acontecimentos da raça inteira e aceitam
o crivo dos destinos, espécie de seres que moram nas profundezas de tudo quanto
houve desde sempre.
Naus sem rumo, mantêm na boca o gosto amargo das verdades
eternas, e nisto preenchem os horizontes com as raízes de tantas luzes e
roteiro dos gestos a que ora se veem submetidos. Intérpretes de quantos
romances, rumores de todo diálogo, ainda entoam cânticos das cavernas às escuras
dos firmamentos. Sonham além do que houvesse, e desfazem no amor suas maiores
contradições trazidas no bojo dessas naves que os conduzem até hoje, vindos de
lugares então desconhecidos deles e dos demais.
Porquanto pudessem narrar quantas histórias dos passados
mais distantes, e seguir-se-iam afeitos tão unicamente ao claro dos sóis e esconder-se-iam
em tradições deixadas ao relento nas fagulhas da outras lendas. Este o perfil
dos antigos moradores de um território imaginário inscrito nas paredes desse
chão de consciências, valores sacrossantos dos séculos esquecidos.
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