sábado, 30 de junho de 2018

As fronteiras do Paraíso

Nesta condição donde mourejamos impera o vil desejo de dominar o destino. Quantas doses de frustração ainda nos aguardam nesse caminho de sonhos soltos, impossíveis, torpes. No entanto a isto aqui nos haveremos; planejar os destroços do próximo barco, na próxima tempestade do próximo inverno. Até parece que desisto de sonhar, contudo. Nada disso, todavia. A dor exige determinação de acreditar nos desejos, mesmo vis desejos que eles o sejam. 

Portas abertas às probabilidades humanas, vivemos quais quem dorme e sonha com o instante solene do Sol na janela a restituir o dia e nos despertar dos antigos sonhos da noite. Vontade soberana faz de nós meros joguetes de alternativas fugazes, porquanto eis ser assim o que resta aos mortais em voo livre, de uma a outra solidão. Parceiros da destruição do que prossegue a indicar os meios de encontrar a resposta, pomos nossos pés nas fronteiras dos valores da perfeição. Afinal a que viemos se não a ser pretensos candidatos à imortalidade?

Foram tantas oportunidades que os dias ofertaram graciosamente, e as largamos perdidas nas contradições deste ser que somos nós, que persistimos a continuar na missão de encontrar o que nos resta de equilibrar sonhos e a realidade, e salvar o conceito de sermos entes eternos, desejo último de quem morre. Beiramos, pois, a toda hora esse poder infinito de revelar o mistério de que somos. Artífices da preservação na existência por todos os séculos dos séculos, toquemos o furor de ampliar o desejo do infinito e promulgar a libertação da finitude. Cabe, portanto, só a cada ser consciente o sinal que nos chama do outro lado da Eternidade, que aos poucos conhecemos de dentro da nossa própria pessoa. Aceitar a condição de precursores da salvação há nisso o motivo único de andar face a face com os acontecimentos que transformarão a dualidade em instrumento de aceitação no mundo real, verdadeiro.

(Ilustração: Vincent van Gogh, em Noite estrelada).

2 comentários:

  1. Hoje você está inspirado mesmo. Ideias e pensamentos em total comunhão. Se pudéssemos voltar no tempo tantas coisas mudaríamos...tantos sonhos que se perderam pelo caminho, tantas vontades contidas , oportunidades perdidas na corrida do tempo que por nós passaram sem que percebêssemos. O tic tac do relógio, sempre em frente , nos alerta que o tempo urge, mas conforta-me saber que este mesmo passa para todos. Então, vamos ser felizes, vivendo entre o sonho e à realidade buscando fazer aquilo que nos conforta, que trás alegria para os nossos dias. Problemas? Quem não os tem? E cada problema tem a dimensão que atribuímos a ele. E estamos aqui para resolvê-los. E vamos buscando a felicidade nas coisas simples que a vida nos proporciona. E são tantas...

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  2. Aceitamos o mundo real mas nem por isso deixamos de sonhar. Nada nos impede de sonhar,e sonhando somos felizes . É tão simples. Sonhar não é proibido, então sonhemos...

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