sábado, 27 de fevereiro de 2016

A alegria dos peixes

Numa dessas histórias de monges orientais que viajam no tempo e chegam à nossa vontade na forma de querer passar adiante e transmitir-lhes o conteúdo, quando lá certa manhã esplendorosa, dessas de oferecer claridade em volta, nas florestas, nas nuvens, através brisa dos ventos, gosto forte e saboroso da perfeição da natureza, dois monges conversavam de cima de uma ponte, a contemplar as águas límpidas do riacho que descia das montanhas postas no horizonte de céu azul na distância. E nisso um deles rompe o silêncio daquela manha primaveril a trazer palavras de observação a propósito dos acontecimentos visíveis:

- Olha só que beleza, com os peixinhos a brincar felizes na correnteza... Além de tudo, sem quaisquer preocupações.

- Sim, vejo os peixinhos em constante movimentação – o outro considera cerimonioso. – Mas disso deduzir que se acham alegres e despreocupados fica longe no tanto de eu considerar comigo o que vejo. Como sabe que eles estão assim alegres, felizes? Como sabe daqui de cima sem ser um deles, um dos peixes ali embaixo?

O monge que iniciara o diálogo olha pensativo o companheiro e logo toca adiante na defesa do que dissera:

- Bom, até aqui tudo bem, disseste o que quis. No entanto como sabe que não sei que os peixes estão alegres, felizes, despreocupados nadando nas águas límpidas do riacho que se vai? Como sabe, então, tu que não és quem eu sou, que digo que os peixinhos nadam felizes nessas águas? Como sabes que não sei, nem posso vir saber, já que não és quem eu sou? - Com isso, durante boa margem de tempo, ele permaneceu de olhos vidrados fixos na imensidão, a contemplar a beleza do momento.

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