quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Os dois cachorros

Num apólogo oriental (nos apólogos os bichos ganham o status de falar), dois cachorros estabelecem diálogo animado a respeito do que o futuro sujeita oferecer. Nesse momento, um deles avalia:

- Pelo seu jeito calmo de ser e sábio de viver, acho que logo logo chegara a época de quando outra vez voltar neste mundo já virá como ser humano - sentenciou judicioso em relação ao amigo, outo exemplar de canino atento ao que falava.

Com aquela animada cogitação, invés de agradar o parceiro, aquilo motivou a que o outro cão respondesse até meio entristecido:

- Sei não, meu amigo. Nascer entre os homens. Huuummm! Sei não. E por cima perder o nosso direito consagrado de mijar em qualquer canto, andar pelado nas estradas e ruas, virar as latas de lixo que quiser, e, de quebra, ainda ter que trabalhar para ganhar o pão e sustentar a família?! Penso nisso agora não. 

O animal, surpreendido com as considerações do camarada de aventuras, abaixou os olhos pesarosos, a examinar os argumentos que contrariavam as felizes previsões, e diz:

- É. Parece que tem razão. Pois eu também, quando vier o tempo, não sei se vou aceitar renascer entre os humanos, não. Irei estudar com cuidado a possibilidade.

Até então eles dois ficaram restritos apenas aos pontos de vista menores de ver só um dos lados da vida que levavam e quanto ao lado de tudo que lhes esperaria depois dali. Esqueciam o tanto de oportunidades bem melhores que reserva a evolução através do processo das muitas gerações. Há que se transcender aos valores acanhados das reduzidas comparações. 

(Referência ao livro Os melhores contos orientais. Seleção e apresentação: Antonio Daniel Abreu. Tradução: Yara Camillo. Editora Martin Claret).

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