domingo, 18 de outubro de 2015

As palavras iniciais

Quando menos esperava, a névoa escura deixou reviver os acontecimentos da sala onde vivera na claridade horas alegres – rasgava com isso o espaço através da mesma porta que permitira sumir o tempo em toda intensidade no sumidouro da realidade desfeita nas pulsações remotas, envelhecidas. Eles (tempo e espaço), por fim resolveriam unir as ações individuais na preservação de tudo que antes virara saudades enormes, que doíam em tantos momentos difíceis que as sombras trituraram. Vultos ocasionais antes que só passavam uns pelos outros feitos zumbis (mortos vivos), agora resolviam transformar os átomos da ocasião em sinais das terras do depois que nunca aliaram o foco num abraço verificado. A luz da sobrevivência se fizera dias que jamais se desfariam os átomos no tempo anterior, isto é, virara presente eterno.

Na casa materna que visitava, naquela madrugada calorenta de outubro, notou rabiscos acesos nas paredes da primeira infância, guiado pelas mãos de pessoa que já não existia aqui entre os habitantes deste mundo. Autorizado, viera trazendo dos armários do quarto os objetos do passado, cartilhas, rabiscos, cores, e recriou o presente novo, em meio a sentimento forte em atualização das horas antigas, reconstituição do tempo em novo espaço. As emoções opacas ganharam forma outra vez. Clareava o passado do tempo e aliava o espaço em outra existência. Isto no sítio onde acontecera nas malhas do fluir contínuo que sumira nas páginas percorridas e desfeitas, restos de memórias entranhados na pele grossa do hoje.

Marcas fortes dessas ondas ficaram assim gravadas de dentro do sonho em forma de gravura e movimento, regresso lá dos penhascos a bruma do desejo de preservar o que nunca deixara de existir na alma das criaturas humanas. Força de consciência ganhava poder de juntar entre si espaço e tempo, idílio definitivo de realidade no romance de almas afins na presença justa e forte que reuniu e amor e vontade.

Isto na pessoa, cá no centro do palco das percepções, na estrutura dos sentidos que oferece consciência, espécie de valor único universal dos personagens atores da cena dos acontecimentos desfeitos bem atrás. Seria o casamento deles dois, Espaço e Tempo, bodas perfumadas de ouvidos e visão, equilíbrio de saudade e permanência, no íntimo do ser que somos nós, idílio de esperança com felicidade em final feliz sem fim.

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