segunda-feira, 16 de março de 2015

Arte moderna

O século XX renovou as possibilidades da expressão artística, quebrando de uma vez por todas com a tradição de que apenas houvesse jeito único de se perceber a realidade. Por causa disso, o indivíduo médio pôde externar com independência seu jeito de mundo, sob padrões estéticos livres da camisa-de-força que predominava na arte mundial até aquela data. 

Essa conquista de expressão rompeu as rédeas do conformismo e trouxe alternativas ao gosto clássico e à comunicação. Nos campos da pintura, por exemplo, os criadores das obras impressionistas forçaram e conseguiram impor, na tela, outras figurações, usando de técnicas inéditas de representar a imagem real.

Aquilo de copiar a forma tridimensional do espaço transferiu-se às mãos de fotógrafos e cineastas, por força dos meios técnicos recentes. Enquanto que, ao talento dos pintores, coube o rompimento das barreiras do visível infinito. 

Nesse período, as duas grandes guerras reviraram pelo avesso os dogmas da cultura, sobretudo na Europa. Desestabilizaram do poder a senhora vaidade, dona absoluta das leis do cotidiano. Viam-se, pois, perdidos a perenidade e o insustentável que prevalecera durante largos séculos.

Tal estilo transformador de reinventar o olho levou os artistas a conquistar territórios inimagináveis, na história de representar a beleza.

Todavia, por conta dos acontecimentos dessa primeira metade de século, afloravam os mais diversos confrontos de opinião. Reações contrárias às aquisições da estética explodiam em quantidade, nos salões e nas ruas.

Grandes mestres da pintura, quais Salvador Dali, Picasso, Van Gogh, Gauguin, Renoir, Pissaro, Modigliani, Max Ernst, Paul Klee, dentre outros, amarguraram penas dolorosas, no afã de mostrar as suas conquistas ao grande público.

A propósito desse clima, registrou Stephen Nachmanovitch, no livro Ser criativo, incidente certa vez verificado, numa viagem de trem, quando cidadão francês reconheceu, no passageiro ao lado, nada menos do que o célebre pintor Pablo Picasso, responsável por inúmeras produções bem características da época revolucionária.

No instinto de aproveitar da oportunidade, o viajante principiou a resmungar e dizer o que bem pensava da arte moderna. Mostrava-se impiedoso quanto à forma dela representar a realidade. Que não dispunha de precisão, de fidelidade naquilo a que se propunha.

Nessa hora, paciente, o pintor espanhol reagiu para indagar do homem o que ele considerava ser uma representação fiel da realidade.

Na mesma hora, o interlocutor sacou da carteira uma fotografia da própria esposa e indicou: 

- Eis aqui. Isto é o que considero uma imagem real.

Picasso segurou a foto, analisou-a de vários ângulos... Frente, verso, lado... Por fim argumentando:

- Mas como a sua mulher é pequena! E, acima de tudo, chata, posso, com certeza, concluir – daí, então, devolveu ao parceiro sua fotografia, e o silêncio de novo mostrou a face.

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