Quem? Ele, o Tempo intocável que move o quanto existe. De algum lugar. vem sorrateiro, silencioso, de dentro dalguma caverna ainda sob o crivo do mistério, e mergulha os céus suavemente, largando marcas profundas nos entes que aqui estejam. Ser encapuzado nas próprias sombras, invade os mundos sem deixar rastros. Apenas as existências, que dão de conta do afável calabouço corrosivo de onde se acham e abandonam aos sonhos o pouco que lhes toca.
As réstias do Tempo, caprichosas, mantêm o ânimo do Infinito em velocidade constante, no abraço descomunal de pássaros inteiros das
dimensões inatingíveis. Meras fagulhas de uma
fogueira inexplicável, são luzes que incendeiam os dias e obscurecem noites e
noites. Sente-se dela a força poderosa que ergue e destrói a beleza, a forma,
os movimentos, dores e prazeres, nessa atividade adrede estabelecida das nuvens que passam e desaparecem no bojo da Eternidade.
Mas Ele jamais conseguirá encobrir as cicatrizes antepostas na face das criaturas que observam esse abismo translúcido na alma da gente. Lá no mais íntimo de todos, candidamente amargura o desejo de ainda perenizar as alegrias, os amores e o fervor das contrições. Cabeças baixas entre as derradeiras passadas que os levarão ao inesquecível, olham apáticos deslizar o Tempo e reconhecem o furor das ausências que vêm e vão ao seu penhor.
Ninguém, quisesse, pois, obteria o senso da razão que O habita, por mais convirja toda sede do imaginário. Assim, tais cativos de um pai que exercita viver e fazer desaparecer multidões incontáveis desde sempre, toquemos o sol do coração à busca sem par deste senhor dos infinitos. Quais meros passageiros dos devaneios e do Destino, fica-nos o instinto de obedecer às normas da solidão que carregamos conosco nas dobras da quietude.
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