Andar lado a lado com as fantasias da aparente realidade, e mesmo assim ser feliz, se alegrar no tanto de tocar adiante sem notar que o tempo escorre pelos céus e desmancha o panorama ao nosso ver. Qual quem alimenta uma forja insaciável, os eus mergulham nas horas cheios da mesma fome dos dias anteriores, sendo em si fardos enormes a transportar enquanto criam motivos de satisfazer desejos e sonhos. Vultos encapuzados assim vagam às sombras dos destinos desconhecidos, padecem de iguais necessidades que impõem os momentos. Eles, os parceiros da ilusão que dormem sobre o pasto dos dias seguintes, velozes, que neles transcorrem as correntezas e sustentam a vida provisória de uma ausência de sentido em termos maiores.
Nesse quadro das ocorrências, desde épocas imemoriais andam
aqui a braços com a vontade extrema de encontrar pouso, contudo num aprendizado
inconstante, movidos ao fogo das lacunas e dos prazeres insaciáveis. Sabem o
quanto podem, aonde chegam na medida em que observam os demais que despencaram
nas antigas cachoeiras do que foram e que aqui passaram. Há, bem que demonstra
a perfeição que rege as existências, que virão outras histórias, guiadas pelos
ventos do Infinito, e que revelarão verdades inextinguíveis a qualquer custo da
sensibilidade.
Até de ouvir isso, desses protótipos em ação, algo sacode o
peito e quer-se evitar a todo custo ver de frente a verdade, estágio em que nos
achamos. Bloquear as vias de memória e desenvolver outras razões de aceitar a
própria ignorância. Foram milênios então longe que fossem de revelar maiores
compreensões, além tão só de baixar a cabeça e entregar aos meros instintos a
qualidade dos sons, e deixar correr o tempo nas malhas da escuridão. Dói isto
saber e quase nada fazer.
Existem notícias dos dias melhores, de quando melhores
formos nós. Lembranças antigas de uma perfeição imaginária ou recordações
pertinentes; eles alimentam essa fome de conhecer mais, de ser mais do que ora
somos. Achar na plenitude dos corações a beleza eterna da Consciência, tal será
o instante da certeza do que desvendaremos, nesse horizonte de eternidades.
(Ilustração: Gravura de Francisco Goya).
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