Naquele tempo quando os bichos ainda falavam a linguagem dos homens e estes a linguagem dos bichos, vivia à margem de um riacho perdido nas distâncias um sábio ermitão que resolvera reunir, passo a passo, a experiência das vidas com a intenção de criar uma linguagem comum que atendesse aos dois segmentos, de bichos e homens. Dali nasceria a tão conhecida, agora, escrita criptografada e os algoritmos. Ninguém mais teria o argumento de não compreender o que falavam os animais ditos irracionais e muitos menos os seres humanos, a quem reservaram a nomenclatura de racionais, algo um tanto experimental, pois.
Seria qual lá adiante a corrida do ouro, o desbravar dos
sertões ou a conquista do Oeste, todos no maior frisson à busca de revelar,
afinal, o mistério da Árvore do Conhecimento, até então restrita só aos livros
sacros. Vieram os enciclopedistas, a Revolução Francesa, conceitos ditos novos
da Idade da Razão, que tomariam de conta do universo ali conhecido e imporia as
recentes condições de pensamento. Normas amplas, atitudes extremas, impensadas,
de grupos de poder, as guerras, os antibióticos, os alimentos sintéticos, as
fórmulas matemáticas, a fissão do átomo, os remédios esteroides e as armas nucleares,
nisso invadiram os palácios e domariam, a seu modo, as feras da Natureza
através da extração do petróleo, dos auto.móveis a explosão e do uso
indiscriminado daquilo mais pesado que o ar que vareja o mundo e tende ao
espaço nos voos interplanetários da chamada Guerra Fria, à conquista dos asteroides,
no entanto jamais vistos além das telas cinematográficas e dos vídeos
monitorados pelos laboratórios e sistemas.
Nisso, os outros animais menos densos juntariam seus troços
e voltariam às florestas que sobraram nas curvas dos grandes rios, deixando de
lado o movimento das ruas aos trens, automóveis, motos, aviões, numa história
que chega às raias da ficção e dela continuam a esperar resultados menos
assustadores.
Eles, os tais bichos fujões, contudo voltariam a aparecer na
Civilização através dos mesmos meios eletrônicos de que sumiram, no entanto com
a devida reserva, porquanto poriam suas marcas apenas em fábulas, apólogos,
canções, programas televisivos, nas tardes e nos desenhos em quadrinhos, que
marcaram época e também tendem a desaparecer por força dos jogos eletrônicos
que os dominam e fazem deles o que bem querem às mãos dos meninos isolados pelos
celulares e dormitórios sombrios de um fins de tarde que eles mesmos imaginam
produzir.
(Ilustração: Reprodução (reddit.com).
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