domingo, 26 de novembro de 2023

Assim nascia uma nova linguagem


Naquele tempo quando os bichos ainda falavam a linguagem dos homens e estes a linguagem dos bichos, vivia à margem de um riacho perdido nas distâncias um sábio ermitão que resolvera reunir, passo a passo, a experiência das vidas com a intenção de criar uma  linguagem comum que atendesse aos dois segmentos, de bichos e homens. Dali nasceria a tão conhecida, agora, escrita criptografada e os algoritmos. Ninguém mais teria o argumento de não compreender o que falavam os animais ditos irracionais e muitos menos os seres humanos, a quem reservaram a nomenclatura de racionais, algo um tanto experimental, pois.

Seria qual lá adiante a corrida do ouro, o desbravar dos sertões ou a conquista do Oeste, todos no maior frisson à busca de revelar, afinal, o mistério da Árvore do Conhecimento, até então restrita só aos livros sacros. Vieram os enciclopedistas, a Revolução Francesa, conceitos ditos novos da Idade da Razão, que tomariam de conta do universo ali conhecido e imporia as recentes condições de pensamento. Normas amplas, atitudes extremas, impensadas, de grupos de poder, as guerras, os antibióticos, os alimentos sintéticos, as fórmulas matemáticas, a fissão do átomo, os remédios esteroides e as armas nucleares, nisso invadiram os palácios e domariam, a seu modo, as feras da Natureza através da extração do petróleo, dos auto.móveis a explosão e do uso indiscriminado daquilo mais pesado que o ar que vareja o mundo e tende ao espaço nos voos interplanetários da chamada Guerra Fria, à conquista dos asteroides, no entanto jamais vistos além das telas cinematográficas e dos vídeos monitorados pelos laboratórios e sistemas.

Nisso, os outros animais menos densos juntariam seus troços e voltariam às florestas que sobraram nas curvas dos grandes rios, deixando de lado o movimento das ruas aos trens, automóveis, motos, aviões, numa história que chega às raias da ficção e dela continuam a esperar resultados menos assustadores.

Eles, os tais bichos fujões, contudo voltariam a aparecer na Civilização através dos mesmos meios eletrônicos de que sumiram, no entanto com a devida reserva, porquanto poriam suas marcas apenas em fábulas, apólogos, canções, programas televisivos, nas tardes e nos desenhos em quadrinhos, que marcaram época e também tendem a desaparecer por força dos jogos eletrônicos que os dominam e fazem deles o que bem querem às mãos dos meninos isolados pelos celulares e dormitórios sombrios de um fins de tarde que eles mesmos imaginam produzir.

(Ilustração: Reprodução (reddit.com).

 


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