domingo, 28 de novembro de 2021

Prometeu acorrentado ao tempo


Bem isso, nessa metáfora vinda de tão longe, no legendário das eras; ele ainda a sofrer o desgaste da ave que lhe corrói as entranhas, marca da matéria em decomposição no fugir das gerações. E o Tempo, que transcorre infalível, eis o condutor dos rebanhos, corrente que sustenta prisioneiro o herói. Constrangido pela força dessa inevitabilidade, Prometeu apenas ler os próprios pensamentos, visões frias do Paraíso da inexistência que perdera certa vez.

Enquanto aqui, somos nós detentos das vidas sucessivas que se repetirão até quando delas não mais houver necessidade, diante das limitações da carne. Superar tal condição, vimos a esse caldeirão das experiências acorrentados aos liames das vaidades humanas, meros seres em formação, crescimento e evolução até o definitivo.

Por tantas vezes de se pretender criador de si, transfere à luta de viver a limitação do indivisível que resta na alma coletiva a que pertence, sem, no entanto, ainda compreender o mistério de ser um só com o Universo. Insiste, porém, no verso da sombra que carrega, e padece a angústia de sua própria contradição, dada a impossibilidade original de romper o casulo donde veio. Ninguém, pois, é dono de seus passos, neste mundo desconhecido.

Regimentos de guerreiros que seguem o drama milenar, instrumentos da claridade que traz o fogo, fantasmas da consciência em elaboração, vão, assim, tocando a preservação da espécie dos que acenderam a manhã da esperança de serem os senhores dos destinos. Pagam o preço elevado da desobediência de querer conhecer deles mesmos o nascimento de que se fizeram. Nisso, descobrem, pouco a pouco, a urgência de regressar ao seu interior e desvendar o mistério dessa liberdade que, aparentemente, traziam consigo desde antes de buscar o Sol das almas no movimento dos astros.

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