segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Sons de uma tarde reverente

Quando ouço os fragmentos desse tempo que passa quase suavemente pela brisa dos derradeiros raios de sol de qualquer dia, pouso morno o meu pássaro na distância dos ouvidos na solidão. Disso, a ausência de razão que justifica buscar o sentido de tudo nos objetos e nas cores da tarde, abandonado nas réstias entre a folhagem impaciente. Escuto os pios das corujas, rastilhos rápidos dos animais ansiosos ali diante da vontade lenta dos acontecimentos. Dali, uma lua nova permanece escondida da visão; e raros motivos de caminhar nas trilhas desta floresta do coração, que insistem falar mais forte no seio da presença do que somos nós.

Fervilha assim, nos pensamentos, aqueles guinchos da humanidade inteira, quebra-cabeças das histórias incompletas e dos gastos inúteis das existências. Quanta correria na pressa da imperfeição. Tantos heróis de fancaria e vilões das ilusões fervilham os dias, cheios das viagens redor do nada em frêmitos de fome e desespero dessa gente bonita, no entanto desgastada na ação dos erros, ira e medo que andam juntos ao bojo da pressa. Quisessem rever o sonho de alegria e descobririam o quanto fugiram da realidade por conta do egoísmo. 

A gente para na fronteira do firmamento das horas. Firma o senso na barra do horizonte. Lembra os filmes de antigamente. Quer esquecer as lembranças. Porém garras de mistério poderoso detêm o Infinito nas aspirações que deixam cicatrizes e contradições. Os limites dominam a pressa e impõem condições aos desejos humanos. Feridos, pois, quais répteis nos próprios equívocos, sabem o que lhes aguarda nos corredores do destino, logo adiante. E urram às feras de si, protestos carentes, na escuridão da alma.

Desfilam nas fibras indolentes da tarde que adormece aos sóis, durante a deposição do outro dia de regressar e vencer a sombra das eras. O claro fecha a empanada dos deuses servidores fiéis. Aos poucos virão fantasmas da noite e os dramas ficarão largados ao léu, marca da indelével santidade que adormece nos humanos, séculos sem fim, e as orações da Luz abrirão portas ao céu do novo dia. E astros brilharão para sempre na Eternidade. 

Um comentário:

  1. Final de tarde relatado com com uma sensibilidade quase perfeita. Transportando-nos para aquele espaço é aquele momento. Temos a sensação de ouvir o cantar dos pássaros preparando-se para recolher-se aos seus ninhos, o sol que se despede deixando seus raios dourados escondere-se entre as folhas, dando lugar a noite e as estrelas que lentamente surgem no céu. É um momento único. Paz, serenidade, reflexão e a certeza de que Deus está presente na natureza em todos os momentos. Sensibilidade e capacidade de retratar o entardecer longe dos arranha-céus , parabéns! Um abraço .

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