Quero falar a propósito de Loqman, consagrado autor de fábulas árabes, conhecido no Ocidente desde o século XVII, quando traduzido, na Europa, em 1615, por Erpenius. Existem considerações de que algumas fábulas consideradas suas pertenceriam mesmo a Esopo. Enquanto algumas desse autor grego seriam dele, Loqman.
Eis a primeira, O leão e os dois bois: Lá numa jornada, dois bois se toparam com um leão faminto, que lhes agrediu sem dó nem piedade. Porém os bovinos demonstram força de sobrevivência, dotados de amolados dentes e outros equipamentos valiosos, no que levaram a melhor, vencendo o rei dos animais. Perdido, o leão propôs um pacto aos bois, que dali adiante exercitaria amizade em quaisquer circunstâncias. Tempos passados, no entanto, os bois, confiantes na seriedade do acordo, esqueceram de andar juntos noutras viagens. Resultado, em duas vacilações serviram de repasto ao leão. Na avaliação do autor: Esta fábula no ensina que se duas cidades se entendem, elas podem sustentar valentemente a luta contra o inimigo. Se se desentenderem, sua sorte está marcada: sucumbem.
A segunda fábula dá conta de um veado que adoeceu e haja amigos vindos de todo canto a visitá-lo. Com presença da multidão dos visitantes, a vegetação que existia em torno da casa do enfermo tendeu a sumir com as refeições de tanta gente. Dada a solidariedade recebida dos amigos, sim, o animal restabeleceu a saúde, contudo, logo depois, ao buscar alimento nas imediações, nada restara para manter o seu sustento. Diz Loqman: Mais se tem parentes, mais se tem inquietudes.
E a terceira dessas fábulas, O leão decepcionado. Nela, ao buscar as sombras de uma caverna, um leão se viu surpreendido por lagarto ligeiro que subiu ao seu pescoço, e que, por mais quisesse, não avistava o bicho enganchado às costas. Olhava de todo lado e não via. Esboçava até algum pavor quando chega à caverna uma raposa, que ri da situação do rei e explica o que ocorrera.
- Eu não tenho medo de lagarto, mas o que me enfada é a sua insolência - o leão se justificou, - e o pouco respeito que ele me tem.
Esta fábula nos ensina que às vezes o desprezo faz sofrer mais do que a própria morte, afirma Loqman.
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