quinta-feira, 2 de abril de 2015

Cavalhadas


Minha família e eu chegávamos a Crato no ano de 1953. Nossa primeira casa ficava à Rua José de Alencar, no quarteirão entre José Carvalho e Pedro II. Das lembranças dessa época recordo que, numa manhã de domingo, fui, com outras pessoas, assistir às cavalhadas, torneio realizado nas areias do Rio Grangeiro, trecho logo abaixo da localização atual da Prefeitura, depois encoberto pelo Canal. 

Esses eventos típicos, segundo os manuais de folclore, remontam as antigas Cruzadas, combates entre mouros e cristãos, presentes no Brasil desde a chegada dos colonos, guardando relação com o passado medieval da Europa. Revejo que eram dois partidos de cavalarianos, o vermelho e o azul, a concorrerem entre si. Existiam disputas com lanças, fitas, argolas, todos trajando indumentárias características. Noutras localidades do interior de Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Mato Grosso, Tocantins, ditos certames preservados com ampla animação popular. 

O que agora me parece dotado de riqueza ancestral, naquele tempo, entretanto, me causou assombro, assustado que fiquei na multidão reunida, visto proceder de zona rural sertaneja, onde nunca presenciara tanta gente de uma vez só. Isso gerou reação de pânico tão extremada que teve de alguém me levar de volta para casa bem antes do término das manifestações, constrangendo a quem coube cumprir tal obrigação, uma jovem que nos ajudava nas tarefas domésticas.

Décadas depois, procurei conhecer detalhes quanto a essas cavalhadas, no entanto pouco consegui além de informes rápidos, da parte do livreiro Ramiro Maia, residente no Município desde o princípio do século. Ele me esclareceu que tais manifestações populares eram organizadas pelo Capitão Arnaud, na fase a que me referi. 

Mais além, vim de encontrar, escrito por Paulo Elpídio de Menezes, o seguinte texto: Dezembro, porém, era o mês de maior animação do Crato de meu tempo. A cavalhada constituía um dos esportes preferidos pelos cratenses. A ela concorriam os rapazes e casados de destaque social. A Rua Grande, desde a saída da Praça da Matriz ao Fundo da Maca, enfeitava-se com arcos de palmeira, onde se passava uma corda. No centro, uma argola ao alcance do cavaleiro, que devia tirá-la na ponta da lança, em passagem rápida, em corrida vertiginosa. Os que acertavam levavam o prêmio de sua perícia às suas noivas, namoradas ou senhoras, que lhes amarravam no braço e na lança fitas largas, de seda, oferecendo-lhes ainda lindos buquês de flores naturais. Do livro O Crato de meu Tempo.

Outros subsídios existem, pois, a serem recolhidos através de maiores estudos e outros depoimentos, no intuito de se preencher essa lacuna da história regional e seus valores trazidos das nossas origens medievais.   


Nenhum comentário:

Postar um comentário