Aquele eu que antes andara trocando pernas pelas calçadas deste mundo das horas a outro resolve lembrar suas estradas poeirentas, sumidas nos blocos cinza de carne e ferro guardados lá no céu da boca da razão, peito feito emaranhado de trastes velhos. Sede descomunal de saudades lhe invadiu a alma diante do momento metálico, pergunta extrema de saber aonde chegar algum dia destes, depois que laços da vida pedirem explicação de tantas irresponsabilidades com os corações alheios largados somente nas lembranças.
Ora então, e esse desejo insistente de encontrar as portas do momento e mergulhar mares a fora nos projetos de transformação. A marca forte da religião fervilhando o peito num pedido de explicação face à velocidade com o que a paisagem passou pelas telas da imaginação. O gosto saboroso de carinho persegue com isso a língua, procedimento químico de renovação das tecnologias. Perigos que voam nas ondas, folhas secas de árvores levadas ao furor da tempestade, olhos amolados de sonhos.
E a sucessão de quadros perfeitos perfura essa resistência de continuar pelas histórias persistentes, nos refolhos do amor de todos nós, olhos abertos ao transe imenso, espécie de esperança viva nos lençóis que nos aquecem.
Os traços do eu que repete as necessidades do encontro consigo próprio todos os sinais bem claros do ser no íntimo da perfeição, ajustes inevitáveis da luz... Pequenos elementos aqui conversam nos ouvidos, paredes internas do organismo, e falam da coragem no ardor do sentimento, nas frases salgadas do quanto de bom resta conosco, tantos anos que sumiram e permanecem depositados no firmamento da tão nova consciência das pessoas com a elas mesmas.
Ninguém se perderá, pois, do âmbito eterno da felicidade, fagulhas luminosas de bons amigos e convicção de instantes harmoniosos, na ordem natural de tudo. Essa paz grita, portanto, com vontade nas entranhas da solidão que nos abraça e conduz ao sentido da inevitabilidade. Nisto, silenciosa, a boa música resume tamanha grandeza de realização do Ser.
(Ilustração: A incredulidade de São Tomé, de Caravaggio).
Nenhum comentário:
Postar um comentário