Moço do interior, ainda que vivendo há vários anos entre carros e prédios nunca perdera o cheiro de mato, sem, todavia, considerar nisso qualquer demérito. Amizade que é bom, embora revirasse os ambientes urbanos a procurar, tinha facilidade para as outras coisas, contudo nesse particular quase nunca funcionava do tanto certo. Assim o tempo passava levando boas chances de novos relacionamentos, preço alto que pagava, porém justificado nos modos beradeiros do rapaz.
Naquela noite até admitia deslizar com mais facilidade e desenvoltura no meio dos inúmeros convidados, talvez por conta da empolgação de música e luzes, animada nas conversas e variadas cores do lugar sofisticado.
No auge da intensa movimentação, eis que, sem a menor das intenções, pisou firme nalguma coisa móvel que interrompia o seu caminho. A barra crescida do vestido de uma senhora retardatária lhe viera à frente da botina e os pés cuidaram de superar o tempo que ficara faltando ao especo percorrido. Dependesse apenas da vontade, pelos modos cautelosos do rapaz, noutras circunstâncias aquilo jamais se daria. Aconteceu, no entanto. O pisão no vestido da moça causou nela um mal estar e alguma contrariedade.
Com o incidente, a dona do vestido retornou perto do rapaz. De pronto, indignada, se vira na direção do involuntário responsável pelo acontecimento desagradável e, em altos brados, para chamar a atenção das pessoas próximas, carrega nas tintas da grosseria:
- Eita, como nessa festa tem animal – a título de admoestação. Afirmara olhando o rapaz, que, sem ação, buscava compreender os motivos daquele gesto.
A princípio, quis pedir desculpas. Compreendeu, no entanto, por instinto de melhor conveniência, que talvez a moça houvesse topado com outros bichos, animais de verdade, soltos entre os convivas no meio do salão. Então, quase sem raciocinar direito, na mesma moeda, devolveu o gesto indelicado de que fora vítima:
- É verdade, sim, dona. Pois acabo de pisar no rabo de um desses animais que a senhora avistou na festa.
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