Definir a personalidade do padre Nonato como excêntrica se torna algo incompleto para essa pessoa que cumpriu o seu papel de pastor de almas da forma menos usual, porém do tanto de atender aos fiéis nas paróquias por onde passou. Quando trabalhava em Farias Brito, a antiga Quixará, tinha uma burra em que, vez por outra, viajava para o Crato, longa travessia de 40 km ou mais. Percorria o caminho provando as bebidas fortes dos botecos à margem da estrada, onde merecia a atenção e o bom papo dos amigos.
Certa noite, numa dessas viagens quando atravessava o distrito de Ponta da Serra, já no município do Crato, a burra assustou-se com os latidos de um cão, meteu dos pés e levou o vigário ao solo. Alguns palpiteiros acham ter isso ocorrido em face do sono alto também do animal, na versão que diz ser hábito dos equinos também dormir viajando nos percursos demorados, hipótese ainda carente de comprovação.
Nos anos 40, começava a procura pelos transportes a motor de explosão no Brasil. Ao lado de automóveis caros e raros, havia as motocicletas. E o sacerdote quis desfrutar desse progresso, e tratou de adquirir uma BSA de 125 cilindradas.
Na estréia da novidade, escolheu para lhe fazer companhia jovem seminarista, que ocupou a garupa do veículo zoadento no roteiro das principais ruas cratenses. Rodearam a Praça da Sé, várias vezes, seguiram pela Rua Senador Pompeu, antes chamada de Rua do Fogo, e dobravam no Fundo da Maca, agora Almirante Alexandrino. De lá, aprumavam pela Dr. João Pessoa, rua principal do centro, contornavam os quarteirões centrais do comércio e de novo chegavam à Sé.
O movimento repetiu-se vezes seguidas, ao som pipocado daquela inovação, no começo despertando só curiosidade. Ambos passageiros traziam a batina preta enrolada nas pernas da calça, a copiar o roteiro ora pelo calçamento tosco, ora no barro batido, para cima, para baixo. Entretanto algo de incomum se dava, causando admiração nos circunstantes, porque, na pressa de experimentar o instrumento esquisito, o sacerdote deixara de estudar o jeito de parar o transporte, e nada de saber onde encontrar os freios e diminuir a marcha.
De tal modo que os motoqueiros, cativos, rodaram quase uma manhã inteira na espera de secar o tanque. Isto, porém, não foi preciso, pois, numa das reviravoltas, deram de frente com jegue lotado que cruzava à frente dos trafegueiros improvisados, e terminaram a aventura esparramados no chão entre as pernas do equino.
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