Certa vez, observei um cabo eleitoral oferecendo, a preço módico, 150 votos, cujo pagamento se daria em duas parcelas. Uma, no ato da venda. A outro, após contados, urna a urna, os votos negociados. Segundo informava, ele ficaria com a metade do apurado e o restante caberia aos eleitores.
Que contradição existe num quadro desses em país como o Brasil! Onde os que mais carecem de bons representantes pouco dispõem de chance para uma escolha correta. Tornam-se presas fáceis dos aventureiros inescrupulosos, relação onde se torna impossível, nas avaliações jurídicas, de saber ao certo quem alicia e quem é aliciado. Em que político compra produto fora de comércio e eleitor dependente vende a própria dignidade.
Esse ilícito eleitoral, no entanto, bem caracteriza a vida brasileira, lugar de consciência pública deficitária, que nunca passou de matéria dos sonhos das minorias esclarecidas.
O candidato quase sempre procura os cidadãos visando galgar postos na política sob valores de ética capenga, no vale-tudo predominante. Os eleitores não confiam nos postulantes, porquanto a história indica os piores exemplos. Na abordagem, mesmo sabendo que seu voto pesa na seleção dos eleitos, vem a ânsia de negociar ao melhor preço imediato. Em regra, muito de raro voltará a ver o candidato, pouco lembrado das importâncias de votar certo e qualificar os padrões da sociedade.
Resultado: cada ano resta a impressão de que a democracia nacional exigirá período longo de abstinência, quando, só depois, veremos as mudanças necessárias em nossas instituições, fruto da boa escolha dos representantes.
Enquanto aguardamos esse processo salutar, resistimos ao seguimento que nem pode se chamar de crescimento, por ficar abaixo da multiplicação populacional, melhor denominado de recessão econômica; da desfaçatez dos falsos líderes e seus índices manipulados; de uma mídia amestrada favorável a estado de coisas perverso, gerador de grave crise social sem precedentes, em que novas gerações pouco contam em modos profissionais; de um cortejo de deficiências em saúde, educação, segurança, moradia, estradas, mazelas sociais impostas pela macroestrutura mundial que nos domina.
Anos se sucedem. Eleições acontecem. Pessoas trabalham. Há que se confiar no futuro, eis a lição titular do bom senso. Jamais desacreditar, portanto. Limitações jamais justificariam desânimo. Queiramos, isto sim, manter a firmeza nos bons propósitos e a ordem de tudo prevalecerá, livre das aparências escuras do atual cenário. Merecerão tão só aquele que cumprir os pressupostos da Justiça Superior. Façamos nossa parte, mantendo limpas as mãos e plantemos as leiras do futuro, quando brotarão novas árvores. Mais que antes, eis o tempo da Esperança em todos os corações políticos.
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