Em carteiras próximas, eles dois apoiavam entre si o conhecimento adquirido, vencendo nisso, com relativa facilidade, a primeira parte da avaliação gramatical, tudo, porém, ainda de jeito precário, primário, qual dizia o próprio nome daquela parte dos estudos da época.
Daí, chegaram à segunda parte, à inevitável redação. Ficaria, sim, mais difícil trocar opiniões, partilhar as experiências das aulas através dos cochichos clandestinos de canto de sala.
Queimado o juízo na escolha do assunto desenvolvido, Salu agora amargurava na seleção dos vocábulos e na correção ortográfica, dada a pouca prática de escrever, enquanto o colega se desenvolvia bem na matéria. Assim, veio a dúvida principal quanto à escrita exata de termo que adotava. Pensa daqui e dali, quando notou a importância de só mais uma consulta o parceiro abençoado:
- João, João, como escrevo passo? – cauteloso perguntou o amigo, olho na prova e olho no mestre, lá na frente sentado lendo jornal.
Nervoso e impaciente face aos desafios da prova, Salu pediu maiores detalhes do que o companheiro indagara:
- Passo, passo de caminhar... Ou paço municipal?
- Não, não, nem um, nem outro. Passo desses que avua – retrucou Salu, nisso movimentando os braços acima e abaixo, no gesto inconfundível de animais alados baterem asas.
Profundo silêncio preencheu o vazio no tanto suficiente até de escutar o ranger dos lápis a percorrer as folhas de prova dos estudantes.
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