No canto do quarto perto de janela que dava no terreiro da frente da casa grande, instalou os poucos troços que transportava, mala pequena, rede desbotada, toalha e panos rotos. Antes de buscar as primeiras tarefas, estirou vista na estrada em frente, que dobrava uma curva logo depois de passar pela fieira das casas dos moradores situadas nas laterais da bagaceira do engenho.
Pegou com vontade o serviço. Jamais reclamava do tipo da atividade que lhe era confiada. Demonstrava apreciar o que fazia, eficiente e produtivo. Engajou-se rápido na safra da cana; ganhou respeito dos camaradas, garantiu a confiança do patrão, que, ensimesmado, avaliava o acerto da escolha daquele trabalhador.
Quando lá um dia, manhã cedo no que ainda se pode chamar de madrugada, o forasteiro, após abrir a janela da dormida, avistou bem na curva da estrada, a fazer diligências pela redondeza, compacto pelotão de polícia, armado e marchando firme no prumo do engenho, vindo quase na mesma direção da casa grande.
Na mesma hora, ele usava apenas as roupas debaixo, e assim, todavia, arriscou saltar no alpendre e daí descendo correndo, lépido, terreiro abaixo, no sentido das canas do brejo, a três centenas de metros, rumo norte, isso tudo em disparada que os calcanhares alcançaram, acompanhado da poeira fina que levantava. Ligeiro, que nem cabrito novo assustado, saltou a cancela e desapareceu dentro no canavial que só espanto de bicho brabo, ainda sacudindo os pendões da plantação, depois, nunca mais.
Até hoje ninguém sabe a certeza donde ele vinha, para onde ia e foi, e muito menos qual a razão de fuga tão inesperada...
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