Rompêssemos o cristal do pensamento, qual rolada uma melancia para se contar os caroços do lugar aberto, e defrontar-nos-íamos com feixe de nervos, carne, sangue, veias, artérias, músculos, ossos, tendões, medulas, mergulhando em universo itinerante que se afirma enquanto respira, trabalha, come e se relaciona, internos circuitos permanentes da busca de transformação.
As cidades, também assim paralisadas, circunstanciariam museus de cera, mistura clássica de um espaço tridimensional. Pedestres, animais, veículos, lojas, residências, bancos, repartições públicas, máquinas e consultórios. Tabuleiros de xadrez estruturados de forma a se pensar que tudo isso (e mais nada) faz sentido, único caminho imaginário para múltiplas projeções de ansiedades.
Afastados ficássemos, viríamos as regiões. Os cercados, o gado, as plantações, os estábulos, moradas, engenhos. A produção vinda da terra, como resultado de tradições técnicas redivivas no correr de séculos. Do campo, a vida - o alimento como preservador essencial das espécies (aceitemos ou refugamos a idéia). Ninguém vive por hipótese. Daí o célebre esforço das gerações em juntar homem e solo. O agricultor à gleba, que pertenceria ao patrão.
Pretendíamos resumir, no entanto se formaram essas divagações subsidiárias, para facilitar o tema: uma visão crítica do homem quanto ao Homem, o salto do nada ao incalculável, do grão de areia a sóis monumentais. Monumentais.
Poder-se-ia (quem sabe?) denegar os objetos e as pessoas, sob argumentos niilistas, prudentes, materialistas; referências fugidias, no fluxo energético que se esfuma, fachos de lua no espelho das horas; coágulos de pó que se fundem nos traços do desconhecido. Poder-se-ia... o que não nos interessa fazer.
Uma semente, quando germinada, conta segredos diferentes disso. Para cada porção, desde o homem (pensamento) à cidade (renovação de humor), à região (produzir, experimentar novas culturas), ao Estado (perspectivas abertas de coordenação), ao País (pujança, economia organizada, reforma agrária, seriedade política, independência), ao Continente (união de nacionalidades irmãs), ao Mundo (paz na transpiração das consciências), certezas novas aspiram construir uma civilização perene, livre dos jogos dúbios de isoladas bandeiras.
Isto lembra o quanto as batalhas sangrentas distorcem intenções e nutrem a imbecilidade, como filtros teimosos dos erros insistentes, que purificam bárbaros trazidos pelo vento. Desnecessário supor limite, uma fronteira, caso busquemos nos fazer antes dos outros (à medida do ter, que nunca enche).
Essa mentalidade míope gera injustiça e fabrica as armas. Querer admitir o exclusivismo como coisa prática (pragmatismo dominante) simboliza sustentar os ferrões à frente.
Das guerras todos saem derrotados. Os vencidos, por serem de fato. E os vencedores, ao esquecerem sua parcela de culpa, em meio a discursos, vinhos e fanfarras, nos salões em festa.
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