quarta-feira, 19 de junho de 2013

Exame de democracia

Ora só, depois de calejado de tantas vezes, mais essa. Passado o período da inocência, levado no tempo, e eu agora com reações de adolescente diante da multidão de brasileiros espalhados nas ruas em manifestações fenomenais, reclamando ninguém sabe o quê, nem para quando, onde e por quê. Sair, se encontrar e andar juntos onde antes apenas automóveis trancavam ruas e aceleravam do medo à insegurança. Uns perto dos outros, os mesmos prisioneiros dos condomínios, favelas, edifícios, cercados de obstáculos e temor. Agora, nas ruas gritando palavras de ordem, revendo a saudade das épocas da esperança política em líderes reais. Outra chance de a Bandeira tremular solta nos braços da pura nacionalidade.

Isso numa improvisação generalizada de emoções que varreu a semana dos habitantes das grandes cidades que resolveram ativar o repertório dos motivos principais da vida pública, empunhar cartazes com frases de efeito, cantar canções revolucionárias. Decidiam, de comum acordo, repactuar os sonhos de um País garroteado nas garras convencidas de raposas proprietárias da hegemonia das urnas, viciados profissionais da rotina eleitoral e práticas equivocadas.

Gestos típicos das aragens libertárias, cem mil pessoas saíam em bloco nas avenidas principais do Rio de Janeiro, que, se combinado com antecedência, por certo não aconteceriam com tamanha hegemonia e autenticidade.

Bom, que arrepiou, arrepiou. Algo de aglutinador que reviveu, nas caixas da inspiração romântica coletiva, os dias melhores ensinados a verso e prosa, nas cartilhas da luta democrática, discursos de justiça, segurança, transporte, anticorrupção, oportunidade profissional, educação, dignidade, paz social, saúde. O mote desse modelo transformador desliza pelos asfaltos em forma da brava gente de carne e osso, sangue e nervos. Talvez muitos nem saibam direito a que saíram em passeata, no entanto acreditam na verdade dos santos propósitos que lavam a alma de todos os males, isto também dos que assistam de casa, nos rincões distantes, graças ao milagre da comunicação imediata.


O mérito maior, todavia, das manifestações desta hora, no Brasil, representa a chance ímpar de testar as conquistas de gerações inteiras dos sacrificados na história comunitária. O exemplo disso são os meios pacíficos utilizados, o respeito das guarnições militares e presença massiva da juventude e suas pautas de clamor de quem demonstra confiança nas instituições e no futuro.     

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