Lá na Bahia, década de
70, estudava no Curso de Comunicação da Universidade Federal. Desde adolescente
nutrira o gosto pela fotografia, e se apresentava a oportunidade ideal de
aperfeiçoar meus conhecimentos no assunto. Dispunha de equipamento
profissional, câmara Pentax SP1000 com algumas objetivas variáveis. Ainda que
apreciasse o trato da escrita, em Salvador escrevi pouco, só o necessário a
cumprir as tarefas da escola. O interesse maior ficou por conta da fotografia.
Havia duas disciplinas específicas da área, Fotojornalismo I e II, às quais
dediquei com ênfase constante atenção.
Andava sempre com a
máquina a tiracolo e fotografava quase todo dia. Em 1975, o ano de mais
produção, devo ter reunido por volta de 500 a 600 imagens, cenas de ruas,
praças, festas de largo, praias, folguedos populares, com prioridade em preto e
branco, o que eu mesmo revelava em casa, onde possui pequeno laboratório.
Outros dois colegas
também participavam desse entusiasmo pela arte fotográfica, Dilton Mascarenhas
e Fábio Camelo, amigos sempre próximos, a realizar projetos diversos, porém
integrados no objetivo comum. Nisso promovemos juntos uma exposição de nossos
trabalhos na Escola de Arquitetura e em nossa própria Escola.
Além dessas mostras,
compúnhamos o quadro de fotógrafos de um jornal mensal alternativa, o Coisa
Nostra, fundado por Nildão, cartunista, poeta e designer paraibano vivendo na
Bahia, e outros, que nos disponibilizava na derradeira página a coluna denominada
Sem Pose, aonde os três, em edições diferentes, chegamos a divulgar as produções
individuais.
Na edição que me coube
usei fotografia que obtive quando, em dia de atividades normais do comércio,
saí com Luís, um dos repórteres do jornal, à cata de matéria. Inexistia pauta
prevista. A foto deveria representar cena de rua. E caminhávamos nas imediações
da Baixa do Sapateiro, quando espécie de pé-de-vento correu pelo o ar, criando
clima inesperado, envolvendo o espaço parecido com os redemoinhos do Sertão, e envolveu
mulato baiano próximo da gente, que, de olhos fechados e qual em transe, começou
a rodopiar a cabeça no chão enquanto seus pés e pernas abraçavam um poste da
rede elétrica. A primeira impressão era que quisesse escalar, daquele jeito, o
poste, isso ainda girando no solo, espécie de carrapeta humana com as pernas já
no alto.
Luís me avisou: - É
agora!
Rápido armei a câmara
e em poucos segundos obtive a cena fotográfica que depois seria utilizada na contracapa
do jornal.
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