Ano passado, quando
apareceu nessas bandas um macaco prego. Primeiro, movimentara casa das
proximidades quebrando trens na cozinha. Depois, saltara o muro e passara a
desafiar nosso cachorro. Descia da árvore onde se instalara e jogava terra nas
fuças do canino, maior sem cerimônia, qual querendo provocar confusão, querendo
briga, no dizer do povo. Jogava a terra e regressava ao cajueiro. Nessa hora,
vimos que não estava para brincadeira, significava instigação à luta.
Ligamos ao Corpo de
Bombeiros, que já sabia da existência do simão, pois meses antes ele pusera em
polvorosa algumas residências do Lameiro, bairro do outro lado distante,
querendo tocar fogo nas casas dos sítios munido de fósforo. Daí, recebemos as
instruções técnicas necessárias: Viriam buscar o animal se conseguíssemos
pegá-lo e manter amarrado, então comunicar. Como fazer tais procedimentos?
Usando comprimidos para dormir.
Desci a Crato e, na
casa de meu pai, obtive dois comprimidos de Rohydorm, dos que o médio lhe havia
passado. De volta, quebrei bem o medicamento e nele untei uma banana, situando-a
próxima do bicho, nas galhas do cajueiro.
Veio logo, e comeu com
gosto. Achei ainda pouco. Preparei nova dose da receita, adotando igual providência.
E toca a esperar a
reação. Formávamos verdadeira torcida à espera do efeito do remédio. 15, 20
minutos... e nada. Acalmado, no entanto, olhava na nossa direção. Esquecera o
cachorro e observava de lado, assim meio tonto, lento nos gestos e curioso.
Desceu da árvore e passou a rondar perto da casa e dos presentes, indo parar na
varanda.
Dele me aproximei com
cuidado, mas rosnou mostrando as presas afiadas e me afastei preocupado. Ao
divisar alguns vidros de esmalte e óleo da manicure que trabalhava em banco das
imediações, abriu um dos frascos e bebeu o conteúdo de óleo de amêndoa.
(O macaco prego (Sapajus libidinosus), proveniente de outras matas, nas encostas da
Chapada do Araripe é bicho estranho, fora do habitat original. Sem outros
parceiros de raça, vivera jogado nas redondezas durante certo período, peixe
estrangeiro.)
No meio tempo, duas
horas passadas, caía de sono, contudo, longe de arriar de vez. Nalgumas ocasiões,
fechava os olhos, tropeçava no próprio passo, e imaginei que atingia os limites
da resistência sob o efeito do medicamento, o que parecia, no entanto,
duvidoso, de botar a caçada a perder.
Obtivemos caixa média
e nela fizemos alguns furos. Com jeito, mediante o auxílio de todos, trouxemos
toalha grossa e nela envolvemos o visitante, que aceitou ser recolhido na
caixa.
Era início da noite
quando apresentamos aos vigias do escritório do IBAMA, em Crato, o exemplar do gênero Sapajus que aparecera em nossa casa; dali receberia o
encaminhamento devido desse órgão gerenciador da natureza.
Muito bom!!
ResponderExcluirAbraço, Janaína, testemunha ocular dessa história.
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