Laranja madura em
beira de estrada é azeda ou tem bicho, diz o povo. Esta afirmação lembra uma história
clássica dos chineses, escrita por Chuang Lzu, mestre da religião taoísta, A árvore inútil.
Perdidas no tempo, ali
permanecem as árvores inúteis à beira dos caminhos. Enorme, porém retorcidas
pelos ventos, feridas de raios, furadas de cupim, desengonçadas... Vem o
marceneiro e comenta que aquela madeira de nada serviria, pois não daria tábua
linheira para a confecção de mesas, cadeiras, armários, esquifes, bancos. Já o
carpinteiro desconfia da resistência de seus galhos na montagem das cobertas,
produção de portas, janelas, barrotes.
Essas árvores também
nada frutificam nos períodos da safra. Pássaros pousam nos seus ramos, contudo
logo disparam apressados a voar pelos céus misteriosos. As cigarras demoram
pouco grudadas ao caule vetusto das plantas inúteis, e buscam outros troncos mais
confortáveis aos cicios que lhes são próprios no silêncio dos estios.
Nas quadras
primaveris, quando matas viram festa e decoram das tantas e variadas cores os
belos campos, ainda assim as árvores inúteis permanecem senhoras da
neutralidade, conformadas ao preto e branco das inutilidades naturais para
despontar nenhuma flor e alegrar a paisagem.
Os viajantes macerados
pelas jornadas extensas observam a árvore sem função, no entanto, fogem de sentir
o instinto de querer repousar à sombra de sua copa, porquanto quase inexistiriam
as folhas que lhes pudessem oferecer conforto refazedor.
Inúteis deveras aquelas
árvores abandonadas à beira dos caminhos, deixadas absoluta ao acaso dos
degredos, face indicarem ausência de finalidade que crescessem aos olhos dos
circunstantes.
E ninguém, na faina
chamada vida, se interesse, na verdade, pelo que ofereça a árvore inútil,
perene a existir longe de incentivar quem quer que fosse a derrubá-la, utilizá-la.
Daí o autor, Chuang
Lzu, aufere lição preciosa através desse quadro conhecido das árvores perdidas de
tantas estradas rumo a lugar algum, e sentencia magnânimo que se seja árvore
inútil nas vivências desse mundo a fim de encontrar paz longe dos burburinhos dessas
vaidades humanas.
Assim, a sua árvore inútil. Inútil? Plante-a
então no terreno baldio. Sozinha. E caminhe a esmo, em torno dela, descanse à
sua sombra; Nenhum machado ou decreto proclamará o seu fim. Ninguém jamais a
abaterá. Inútil? Que me importa!
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