Escutem essa história que ouvi recentemente de um amigo a propósito do
seu genitor casado pela segunda vez.
Depois de haver cruzado as dificuldades naturais do tempo, com a prole já
criada, viúvo, isolado no meio deste mundo ocupado na corrida do ouro e da
sobrevivência, eis que a idade e as cicatrizes passaram a pedir nova
experiência amorosa, companhia de gente. Quando parecia desencantado na procura
dessa pessoa, apareceu o anjo de candura que lhe amenizaria a solteirice.
Contribuiria, com certeza, na alegria das derradeiras ilusões, a escorrerem os
dois juntos pelas biqueiras impiedosas dos calendários.
Daí, resolveu logo ajuntar seu nome e seus bens aos da mulata cheirosa e
que dele se engraçou. Arrotearam o papel,
nos registros do cartório, sina de partilhar cama e herança, ainda que isso
pesasse nos ombros e na opinião de quase todos os filhos, cinco ou seis, não
lembro bem.
Mas tomou gosto e casou, sim, em segundas núpcias qual se diz. Festa,
passeios, vizinhanças, amizades fartas e esperanças reacesas.
Impiedoso, porém, o tempo seguia no curso cadenciado e constante. Depois
de década e pouco, lá o amigo encontrava o pai assim meio triste pelos cantos,
sozinho, amargurado, falando devagar. Senhor das agruras, contudo andando firme,
calado ou desconfiado.
Preocuopado, o bom filho resolve assuntar sinceridade e buscar o amigo querido
a fim de detonar pergunta que guardava desde lá detrás, começos da relação do
pai sessentão com a madrasta:
- Sim, meu pai. Quero saber um detalhe de sua história. Seja sincero,
como sempre foi, e responda de verdade, o que sua mulher sente pelo senhor é
amor ou interesse?
Nessa hora, o pai levantou a vista, observou o filho sentado à sua
frente a interrogar tão sério. E resolveu falar o segredo que guardava a sete
chaves. Fez da fraqueza força, pigarreou e, sem titubear, explicou:
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