Quando o mistério é muito grande, não se ousa desobedecer. (Antoine de Saint-Exupéry, in O Pequeno Príncipe).
Por vezes isto acontece no
decorrer da vida, de coisas superarem a capacidade para interpretá-las, impondo
condições inarredáveis de jeito a que não se saiba agir ou vislumbrar
alternativas, reduzindo os seres a meros joguetes do destino, coadjuvantes de
dramas de proporções gigantescas, nos quais a pequeneza invade o horizonte, sem
chance de determinar coisa alguma além da espera passiva dos desdobramentos a
virem.
Nessas horas de rara
solenidade, busca-se de dentro porta e janela que, de alguma forma honrosa,
salvariam dessa voragem inevitável, porém tudo se fecha à visão interna e, qual
diante de tempestade portentosa, cai-se em crises de apatia, sujeitos até ao
desvario das comoções cerebrais extremas, ou, à margem da razão, vira-se
testemunha cúmplice das conseqüências de tudo isso, aspecto selvagem dos
problemas indomáveis que a vida traz.
São esses os apocalipses
pessoais. Eras tombadas em cataclismos tenebrosos, revirando as estranhas,
pedras rolantes das dores em queda livre nas encostas de almas debilitadas na
dor, individualidades impotentes face aos momentos difíceis. Horas de partos
sangrentos, marcas tortuosas de feridas abertas no peito, em rios de emoções
desvairadas, corrosivas, torturantes...
Em tais lapsos de tempo, a
procura de Deus acelera seus passos e as vaidades perdem seu fulgor fantasioso
de pequenez do ser beira às raias da insignificância, restando só o direito de
existir ao ímpeto da multiplicidade dos eventos incessantes.
O mistério dessas horas
rasga o peito em variantes inéditas, semelhantes aos córregos lamacentos que se
formam depois das chuvas voluptuosas. Neles descem os coágulos da sangria
imensa que avassala corações macerados. Morrer, verbo inútil dessas sofridas
instâncias.
Contudo algo ocorre de
dentro para fora, numa mostra clara da presença de força até então
desconhecida, no âmbito das respostas dos outros mistérios rotineiros, que
parecem configurações intelectuais e racionalizações passageiras.
O mistério maior, esse,
sim, desmistifica as crenças só convenientes e conceitos de algibeira, e impõe
respostas jamais previstas, comprimindo todas as partes do sistema íntimo
existencial ao fluxo dos acontecimentos grandiosos. Deixar acontecer, porquanto
não possuir meios de reverter ações verificadas. Não recalcitreis contra o aguilhão, avisa Paulo de Tarso.
Mais forte do que a morte,
eis a força dos acontecimentos. Incrível
a força que as coisas parecem ter quando têm que acontecer, assevera
Friedrich Nietzsche. Por isso, após a tempestade vem a bonança, no dizer
popular. Resistir enquanto resistir, a bússola dos sentidos, na existência
vacante das medíocres criaturas joguetes da sorte.
Caso um dia queira a dor
superar a disposição da resistência, sobrará encontro da resposta que acompanha
fiel as indagações que compõem o mistério de coisas bem maiores, pois a
inexistência absoluta de qualquer coincidência, no fluir das energias da
Natureza sanciona que coisa alguma existe fora da ordem universal soberana.
Nisso cabe a força do Amor, antídoto dos males possíveis e imagináveis, ou
inimagináveis, ou impossíveis. Nada resiste e tudo se completa no Poder,
cabendo aos eleitos felizes merecerem a Iluminação do fim do túnel, na
existência desse chão poeirento.
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