sábado, 30 de março de 2024

Impressões do coração


Ainda que pensasse fazer mais do que o necessário em matéria de amar, tornara-se insuficiente qualquer esforço neste sentido, vez que gestos por si só atrapalhariam sobremodo, a redundarem inútil a força do carinho que ambos nutriam um pelo outro, mesmo que as aparências demonstrassem diferente, a se medir pelas conseqüências das recentes providências.

Falassem ou agissem, a vibração que circulasse geraria dividendos melhores do que os da véspera, complementos de atitudes abstratas na relação entre os dois. Com isso, as coisas ganharam corpo, ocasionando profundas mudanças dentro de pouco espaço do tempo que restava, ao sabor das ondas e dos valores em jogo.

Nas poucas vezes em que se esperou resposta favorável ao procedimento dele para com ela, ações se encaminharam de modo autêntico, frutos imprevisíveis, deliciosos e doces motivos de esperança, porquanto o impacto daquilo de viver drama severo quase destruiria o alimento nutritivo usado anos a fio, durante período de décadas.

Ninguém, de consciência desperta avaliaria o desenrolar dos acontecimentos posteriores como aquilo de que dispunham em matéria de boa vontade, pode-se dizer. O mais correto, otimista de verdade, indicaria trabalho doloroso de um parto inglório, nas cogitações do pregão das bolsas vespertinas.

No entanto, razões de êxito dominaram o processo dos dois corações esfacelados. Um querendo fugir sem demora, portas abertas e peito em furor. Outro, em pânico, devido os espasmos na lama de lágrimas secas, persistia inundando de chuva a face clara da lua e o brilho das estrelas, noites a dentro, revelações de segredos universais. Horas extremas, calmas, todavia, definiram o ponto principal. Por mais imaginativo que seja o texto, infinitos para cada lado, e o princípio do equilíbrio dominou o centro da balança dos sentimentos acelerados.

Sonhar alegre talvez resolvesse a equação, porém ela confessou nunca sonhar, que não sabia, não fosse sonhar acordada, no fervor do sol a pino.

Pouco ou nenhum desejo de contar a quem por certo pretende conhecer os passos da cena emocionada representa detalhe insignificante. A cidade em peso marchou pelas ruas e ruas, procissão melancólica, perguntando o motivo do silêncio, após circular no céu espécie de objeto voador não-identificado há muito esquecido nas cômodas cheias. O pomo das especulações que restara intocado no íntimo dos cérebros cabisbaixos ficou por resolver, contudo.

De se amarem além da perspectiva da raça dos homens, o casal ultrapassou as barreiras do ilimitado, abrindo brechas imensas na existência perante a única praça do lugar ermo. Houvesse grupos de danças típicas e eles gingariam aos borbotões evoluções magistrais, originárias da fonte misteriosa das vertentes eternas.

Pois bem, quanto à probabilidade deles dois saírem unidos, apesar das marcas cotidianas e medíocres, isto cresceu no horizonte, por força de conspiraram no sentido contrário ao meio social.

Raras histórias falam dos finais felizes para sempre. Por isso, em complemento ao que se aguarda, nos vazios laterais dos becos, isso daquele amor correspondeu à ânsia da felicidade. Em estado bruto de satisfação se completaram frases inteiras antes abertas, abençoando de paz os dias seguintes das vidas, em festa permanente e sem fim.

(Ilustração: Renoir).

Nenhum comentário:

Postar um comentário