terça-feira, 3 de outubro de 2023

O enigma do Inconsciente


                         

Esse ente que somos nós até que nós o sejamos, e que vive ali dentro, escondido e agindo solto feito eminência parda, a comandar todos os gestos, eis que predomina e faz da cena o seu repasto. De memória farta, guarda de tudo no reservo de suas lembranças, e constrói o próprio castelo de sonhos onde habita. Vive e espreita todos os gestos, sentimentos, pensamentos, emoções, desejos; se acredita que lhe atendem, faz de conta que nem existe. Impera, simplesmente. Tal ente clandestino nas próprias leis deixa acontecer dia após dia o fluir das gerações.

Quando, no entanto, deduz de suas dúvidas que algo não corresponde ao que deixara escrito nas hostes do amanhecer, parte, vai em cima, quebra, arrebenta, faz e acontece, feito vilão contrariado dos filmes de bang-bang. Torna-se o que chamaríamos de nefasto, indiferente, arruaceiro.

Daí, esses farrapos que cruzam as linhas das melodias de sofrência; tristeza só, arrependimento, angústia, e tudo enquanto. Um adversário perigosíssimo do cotidiano das almas destronadas. Produz a cada gesto. Põe na perdição os galãs, desespera, deprime. A isto que dizem ser o mal do século, a depressão, disso ele significa o autor intelectual. Comanda e desmanda.

Bom, assim visto sob o prisma da contrariedade, o Inconsciente, que acumula todo o passado das criaturas sem deixar fugir nada que fosse, fica ali detrás do espelho dos dias e determina silencioso. As visões psicológicas já definiram com fartura sua existência, uma espécie de si mesmo que mora no âmbito das pessoas que precisam de vir a conhecê-lo e ser ele mesmo, e de seus caprichos se libertarem. Daí estarmos existindo onde quer que estejamos. A função primordial, pois, de todo vivente será sua descoberta e dominação, numa atitude de quem reconhece um ser interior que lhe preenche em toda sua grandeza, aceitando de bom grado vir a ocupar o espaço da Consciência, que, desde sempre, aqui estivera e que dele ainda não se dera conta.


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