segunda-feira, 30 de outubro de 2023

A certeza dos sonhos


As lendas nascem disso, da certeza dos sonhos. Os filmes, os livros, as histórias gerais. Primeiro se apresentam no meio das noites, avassalam o espaço incontido no sono e convergem às derradeiras luzes da noite em forma de enredos por vezes guardados na memória quando não desaparecem do jeito que chegam. Peças metálicas de engrenagens fantásticas. Superam as avaliações imediatas e acrescentam esperança naqueles que a perderam no transcorrer das gerações.

Eles, os sonhos, que falam das verdades ocultas sob escombros monumentais de longas caminhadas pelos desertos da solidão. Propugnam. Transmitem fantasias de roteiro inalcançáveis logo ali de imediato. Abrem espaço no passado. Encobrem as letras escuras do Destino. Superam as dúvidas, os vacilos e constrangimentos abandonados entre os rebotalhos que ficaram esquecidos no tempo e nas gavetas dos trastes mais antigos.

Espécie de fé que sobrevive às cascas do desespero, sonhos trazem fortuna, marcas d’água no colo das luas enamoradas, alimento do mistério que constrange e atropela desejos da humana felicidade. Têm tudo consigo. Vêm nas religiões. Nos ventos alvissareiros da sobrevivência. E fornecem orações poderosas que vencem o quanto ainda resta de saudade naqueles que atravessaram as pedreiras e o semi-árido das ausências.

Sonhar, afinal, contém o senso da realização do Ser. São partículas que circulam os ares do Inconsciente e substitui a insistência em viver só o que o pensamento quer determinar no íntimo das criaturas. E supera o fastio repetitivo de imaginar que haja algo de intransponível durante todo tempo. É a matéria-prima da renovação do existir às nossas mãos, porquanto fala uma linguagem coerente de valores nascidos na lama escura do chão que nos abriga. Algo, assim, que nos transporta a outros planos nunca antes considerados, quais abismos de profundidade sem fim.

(Ilustração: Sonhos (https://www.sonhos.com.br/sonhar-com-barco).


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