quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Esforços espirituais


As iscas do entretenimento enchem as horas livres. Lembro bem, no curso ginasial, de um colega que, certa vez, me convidou a visitar uma biblioteca que existia nas imediações da Praça da Sé, em Crato. Fomos lá no intervalo do recreio. Na maioria, eram livros místicos, religiosos, sagrados. Eu que vinha saindo de infância acompanhada por Tia Vanice, irmã de minha mãe que morou na nossa casa, quando aprendera a rezar o Pai Nosso, a Ave Maria, a Salve Rainha, e tirávamos o Terço toda noite antes de dormir, naquela hora queria algo que fosse diferente, algo comum, profano, daquele mundo aonde fora parar, no Colégio Diocesano. Tempos bem outros, de balbúrdia, questionamentos e desobediência. E recusei tomar emprestado qualquer daqueles livros que contavam as histórias de Jesus, dos santos, as narrativas bíblicas, católicos em sua maioria. Já encontrara romances de massa entre os livros deixados pelo Tio Alberto na estante de minha mãe. Ela dizia que eram livros de adulto, que deixasse de ler só depois. Mesmo assim lia escondido, nas horas que achava oportunidade. Meus primeiros livros haviam sido dados, em sua maioria, pela Tia Risalva, que contavam de reinos encantados, príncipes, princesas, fantasias infantis. Entrei, pois, noutro universo, dos livros de adulto, esses realistas, por vezes violentos, cruéis, cheios de dúvidas, dos desencontros humanos, das guerras, revoluções, até ler Por quem os sinos dobram, de Ernest Hemingway, autor americano que me cativou e procurei outras de suas obras. Também li O general do rei, da inglesa Daphne du Maurier, um clássico de época que atraiu minha atenção. Em resumo, buscava correr os riscos que o mundo tinha a oferecer, independente do que lá adiante sentiria da imensa necessidade em conhecer a literatura espiritual.

A bem dizer, imaginava serem dispensáveis os esforços de ordem religiosa, mística, assunto dos padres, das igrejas, no entanto, agora vejo nisso a importância crucial diante dos desafios que vivo nas grandes interrogações e esforços posteriores, nas provas deste mundo. Foram tantas as lutas geradas nas vivências que tive de enfrentar que agora ouço os gritos do silêncio a ecoar por dentro da alma, por dentro de mim, a estimular o senso da busca e aprofundamento dos estudos e conhecer de perto as experiências de muitos que defrontaram o mistério da existência. Pelos livros, compêndios de largos ensinos, os quais que chegam ao cinema, aos outros meios de comunicação, eles preenchem dias e dias do alimento de tantos pelas revelações de que somos partes integrantes. Revelam, assim, nas suas histórias e tradições, segredos preciosos e úteis aos que anseiam pelas respostas de tudo quanto há noutra dimensão vasta e inigualável.

Um comentário:

  1. E o que seria do nosso passado, da nossa história de vida se não houvesse alguém que nos seus momentos de lazer pesquisasse e colocasse em livros, crônicas, revistas. Os livros tem a capacidade de nos transportar para um passado onde lá estivemos e relembrarmos as nossas memórias. Excelente texto. Parabéns ! E Parabéns pelo Dia do Escritor! 👏👏👏

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