terça-feira, 11 de outubro de 2022

Condição só parcial

Lá no Paraíso, naquele dia, quando visitados pelo Criador, eles logo descobriram que estavam nus. Haviam comido de um fruto proibido. Não sei bem se pela desobediência ao conhecer o sabor de tal fruto da árvore do conhecimento do Bem e do Mal, ou pela ânsia pura e simples de dominar a Natureza virgem. Tiveram a chance de ser orientados, o que, no entanto, descumpririam na maior sem cerimônia. Eis um conto de prudência, da atenção às leis sob as quais desfrutaríamos do mistério. Dois personagens, a floresta do Jardim do Éden, os outros animais, tudo em volta a guardar o silêncio a bem dizer absoluto.

Impera constante essa larga interrogação, o que estamos fazendo aqui? A que destino flui essa lâmina de carne em queda livre rumo do Infinito? Daí essa impaciência de revelar, no prazer da carne, a função, progressão matemática da superpopulação da espécie na face do Sol. Viver, usufruir das benesses da Criação, sem, contudo, render homenagem aos segredos do Universo. Eles quiseram correr, a que destino porém?

Isto prevalece até hoje, pelas encostas dos momentos. Prometeus acorrentados a rochedos descomunais do Tempo, todos dançam na festa do sabor imediato, no apetite de reunir as maravilhas possíveis e dormir o sono eterno. Pura expectativa de utilizar, a recurso próprio, as normas deste mundo que faz dos instintos a fuga mortal das criaturas humanas em face do seu Autor.

Achar um pouso de esconder as práticas deste chão, de sonhar com o penhor da felicidade, quanta imaginação dos aflitos atrás de quem outras árvores simulam a pureza original perdida antes? O fel da desobediência que daria satisfação entristece e mata de servidão aos mesmos heróis de antigamente. Pois somos os seres infiéis que aqui chegaram e permanecem envoltos nas brumas desse deserto e suas miragens incessantes. Nós, artesões do Cosmos e das nuvens de pensamentos a ser purificados lá um dia, nos sonhos perdidos do Paraíso que somos agora.

Um comentário:

  1. Sei, no entanto, que entre esses cacarecos existem como que a vida de mil seres que significam este eu que ora sou, fruto de todas minhas experiências até aqui acumuladas." parabéns! Linguajar culto! 👏👏👏💫💫💫

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