sábado, 15 de outubro de 2022

Portas e janelas


De comum vive-se do lado de fora da existência propriamente dita. Quase nunca resolver entrar em si, mergulhar no íntimo de nós mesmos, significa a opção que menos atrai insistentemente. Distrair-se, tal o verbo das massas humanas. Buscar entretenimento. Enquanto que lá por dentro vive, ainda adormecido, um ser real, a única possibilidade que seja diferente do vulgo. Porém custa um tanto de renunciar às tradições só do conforto físico, dos prazeres e das vaidades e distrações.

São essas portas e janelas que, ao serem abertas pela força de vontade individual, nos transportam a níveis até então desconhecidos. Unir o físico e o eterno numa única alternativa de busca e desvendar os mistérios desconhecidos do Universo em nós.

Muitas, muitas escolas filosóficas dão notícias desse outro lado da gente desde os primórdios da raça. Indicam meios de concentração, meditação, oração, programas terapêuticos, fórmulas e fórmulas, técnicas que levem a esse encontro consigo próprio à luz dos caminhos interiores, porquanto a Consciência requer atitude, abrir o sentimento às raias dessa oportunidade.

Vez em quando, um desgarra da multidão e some no silêncio, na disposição de resolver a equação principal do motivo de estarmos aqui. Em palavras simples, o coração é porta que apenas o indivíduo pode abrir. Nisto, resumem persistentes jornadas que denominam Salvação, Transformação, Iluminação, Purificação, na firme resposta às falibilidades do mundo em que vivemos.

Daí, vêm as crenças, opções pessoais e práticas fiéis ao aspecto místico da personalidade, assunto por demais decantado nos compêndios filosóficos, religiosos, psicológicos. Aparentemente fácil de registrar, no entanto fruto das mais profundas práticas, face aos desafios da vida na matéria.

Conquanto pertinente, pelos tantos testemunhos espalhados na História, revelar este aspecto necessário às ações da virtude, no exercício de valores constantes define a Verdade que existe, pois, no ser que somos pelo respeito aos outros, na constância nos deveres, no domínio dos instintos, dos pensamentos e sentimentos negativos. Nisto, o exercício do querer sobremodo face aos pendores humanos, sempre aqui junto da nossa natureza. 

Ilustração: The Sun Sets Sail, de Rob Gonsalves.

3 comentários:

  1. Texto impecável e bastante reflexivo 👍

    ResponderExcluir
  2. "Em palavras simples, o coração é porta que apenas o indivíduo pode abrir. Texto perfeito. Parabéns!

    ResponderExcluir
  3. Texto rico, linguajar culto e reflexivo. Eis a beleza do nosso escritor. ✨✨💫💫

    ResponderExcluir