quarta-feira, 29 de agosto de 2018

O outono das cidades

De observar as ruas da cidade, notamos forte tendência nos atuais moradores para se transferir ao campo, escapar do barulho, dos engarrafamentos, insegurança, e respirar libertos da fumaça. Nos fins de semana, então, a coisa ocorre sem deixar dúvida. Os grandes centros viraram só compromisso de segunda a sexta-feira. Depois, fuja quem puder.

Tal avaliação sugere a falência de um sonho que alimentou muitos séculos. O instinto de procurar vilas e repartir preocupações lotou o espaço das cabeças todo tempo, que povos não pensaram em mais nada como outro modo de racionalizar o povoamento.

A proposta seria somar forças. Entretanto a sofisticação da vida em grupo gerou dificuldades, no princípio superáveis pelo trabalho partilhado, depois intransponíveis face ao crescimento, rompendo previsões e limitando alternativas para ocupação de toda a mão de obra concentrada.

Os núcleos de prosperidade em que se haviam modificado as povoações resultaram nas baías interiores, com classes sociais dilatando o fosso divisório do abismo social, desvirtuando o impulso gregário dos indivíduos subtraídos da ordem natural que ficara no campo. A tendência afluente se reverte agora num isolamento coletivo, hoje bebido com náusea nos passeios neuróticos das madrugadas urbanas.

De qual maneira as chagas têm sangrado que maioria incalculável de cidadãos passou a descrer das soluções comuns, adotando iniciativas particulares, mesmo em detrimento dos que nada podem fazer.

Seriedade não falta para o estudo de sintomas. Congressos, mesas redondas, discursos, prepotência, pirotecnia. Interesses próprios mascarados de usurpação de atribuições. Fórmulas mágicas preenchem as prateleiras - critérios exclusivos e bilionários nos programas de governo.

Em compensação, risco ocorre no achatamento dessas intenções, vez ficar difícil dizer quem pode ou quem quer só o poder; saborear o mel e descartar o fel. Do pecado na escolha ruim fica um preço a ser pago, tamanho do tempo perdido, multiplicado pelas vidas em jogo, milhares que habitam os guetos das cidades; seria, talvez, a democratização da miséria, invasora dos lares e destruidora da vida social, espécie de submissão aos valores piores, quando se descartou a chance de escolher melhor, vezes perdidas para sempre.

No passado, as guerras reviravam ordens estabelecidas e desfaziam os problemas críticos a toque de caixa. Depois, técnicas potencializaram a riqueza, comprimindo exércitos no atributo de forçar direitos. Resultado: polos urbanos transformados em campos de concentração e desavenças. Os instrumentos de lazer eletrônico restaram desmantelados nos cubículos escuros sem ar, nem paz, quais sucatas de luxo.

O retorno ao seio da floresta mais do que nunca antes parece lenitivo provável; estudiosos da alma acreditam que trazemos o mapa desse percurso, algo semelhante ao que perfizeram os hebreus, na saída do Egito empós da Terra Prometida.

Um comentário:

  1. Tudo na vida tem um preço . Viver nas grandes cidades têm os seus benefícios e confortos que as cidades pequenas não podem nos nos proporcionar. Mas por outro lado ainda temos a oportunidade de nas cidades do interior temos o prazer, a beleza e deslumbre de acordar com a serenata dos pássaros que nos despertam juntamente o galo a cantar anunciando o amanhecer. O sol surge lentamente por trás das plantas banhando tudo com seus raios dourados e nos dizendo quão bela é a natureza.

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