quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Viajores do tempo

Além de dependentes diretos do espaço desse lugar que ocupamos aqui no Chão, forçados sob a tonelagem do próprio peso, somos também prisioneiros diretos do eterno presente, que suspira obter a essência do momento nas malhas da consciência. Ainda que filosoficamente assim não fosse, de que adiantaria imaginar diferente, porquanto as garras existem a nos suster os passos, e nessa carência cônica, formidável, de conhecer o futuro, ele caprichosamente foge de nós, impetuoso, semelhante ao coelho corredor e seu relógio, em Alice no País das Maravilhas. Quais despertados de sonho que queremos lembrar os detalhes e o enredo, quanto mais quiséssemos mais ele escaparia rumo do desconhecido, nos sumidouros da memória, sombras, horas, do movimento, lembranças, idades.

Totens do que fomos de nós mesmos, dançamos à volta dessa fogueira intermitente da existência numa síndrome inevitável, adoradores do fogo sagrado que queima vivo dentro sem cessar jamais. Espécies dos faquires dançarinos do Sufismo, arrodeamos nossa imagem e o que fazemos de cada um, em aspiração frenética de liberdade, porém às tontas na roda do destino inimaginável. Vez enquanto, somos surpreendidos nessas migalhas de mel de aparentes felicidades que escorrem das nossas bocas, favos das abelhas radiosas que desejamos ser, outrossim semelhantes a meros criadores de personagens fantasmagóricos, sonhadores de sonhos impossíveis, fugitivos dos países habitados nas quimeras que formamos.

Contudo ninguém a sumir do ansiar das descobertas que farão de nossas almas rainhas do Universo, forças intensas da criação do ser que já somos e não podemos ainda conduzir com exatidão nessas estradas tortuosas do Infinito. São séculos, milênios de contradições a reclamar esse encontro definitivo da perfeição de que dependemos nos gestos atuais e nas buscas repetidas de tempos. Nisso, de uma hora a outra, numa das esquinas dessas miragens, bem ali, nalgum espelho, noite ou dia, haveremos de esbarrar conosco e fazer as pazes com medos, culpas; angústias e aflições; dos credos e das dúvidas largadas fora. Abraçar-nos-emos, então, repousados de nós, depois de tantos gestos de desesperos, e dormiremos em paz, feitos crianças, nos nossos braços enternecidos dessas jornadas de solidão e esperança que realizamos nas vidas imortais.


2 comentários:

  1. Em algum momento nos damos conta de que a nossa vida é finita. Então todos estes sentimentos das fogueiras das vaidades não tem sentido, é isso é muito bom nos tornamos pessoas leves, despreendidas ao cair em si e sabermos que damos valor demais algumas coisas que de fato não faz grandes diferenças para nos. É um renascimento, claro que algumas obrigações permanecem, mas nada que nos transforme ou faça grandes diferenças em nossas vidas. Descobrimos também que não podemos e nem devemos mendigar amor, carinho, atenção, ou coisa que o valha. Descobrimos também que temos uma grande companhia, Deus é nós mesmos; que a solidão chega ser um mal necessário. Mal para alguns e paz para outros. Então é assim, um crescimento pessoal sem tamanho, que só quem aprende a si bastar consegue descobrir.

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  2. Quando parámos em algum momento para refletir o quanto gostamos de postergar as nossas decisões é nos damos conta de como fomos acomodados em nossa vida e decisões. Gosto de viajar! Ah depois eu vejo isso; estou em um quadro pessoal em posso mudar o desenho e as cores das tintas, ah, depois eu tro de lugar e tintas. Enquanto isso o tempo vai passando rapidamente levando consigo os meus sonhos, projetos e decisões que não fui capaz de tomar uma atitude. E o tempo não espera por nada nem por ninguém, vai embora independente do meu querer. Aí vem um arrependimento do que não fiz. Do abraço que dei, do beijo que eu não roubei é daquele afeto estupendo que ficou trancado no meu coração.

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