segunda-feira, 9 de abril de 2018

Almas penadas


Noite lenta. Sons distantes de cães latem de encontro ao silêncio, quais notícias soltas de existências à busca de afirmação nos vagos da rude solidão. Escuro aqui. Escuro mundo afora. Nalgum casulo preso nas folhas que sacodem ao vento frio da Serra, alguma borboleta sonha com a liberdade nalgum dia. Dentro de mim também sacodem sonhos impacientes do túnel de onde, um dia que seja, acharei a liberdade, e que moram guardados no coração das pessoas. 

Enquanto isso, a noite segue no seu leito de solidão adormecida mas que revira na sombra os movimentos inertes das estrelas que reluzem lá dentro do céu imenso. Elas passam à busca dos viajores perdidos nas encostas, retardatários das longas jornadas do Destino. Elas, as visagens dos que morreram e insistem permanecer retardatárias nas dobras deste chão, vagando almas vadias nos apegos dos desejos que alimentavam de permanecer no desespero de haver largado a matéria sem dominar os jogos da natureza. Às vezes ouvem os galos fora de hora, as raposas que buscavam os galinheiros e fogem assustadas ao susto dos mortais inesperados. 

Eu escuto quando mais outra macaúba caiu do pé quase junto da janela, retalhando meus pensamentos de passados remotos, avisando as horas que mergulham nos gritos dos morcegos que investem nas ausências e desaparecem pelo infinito da escuridão em volta. Partida de um xadrez imaginário entre mim e o senhor das interrogações bem ali se estabelece, lances calculados a peso de largas considerações irmãs gêmeas do silêncio e da noite. 

Em volta, elas observam abismadas o quanto ainda resta mover as peças no tabuleiro imenso da colina espalhada sobre o mar das nuvens que deslizam lá fora rio adiante, marcas profundas do tanto de seres que desconhecem o passadio dos vivos, que deixaram de ser, sem ir e sem saber regressar. Quantos e tantos são assim nessa noite das saudades adormecidas. 


Um comentário:

  1. Saudades adormecidas...quem não as tem? Cabe-nos conviver com essas recordações e saudades mortas, porque elas nada nos agregam. Criemos um mundo novo! Um novo amanhã, um novo sonho, novos desafios,..precisamos, necessitamos mesmos fazer uma seleção, abrir os armários da alma e lá praticar uma teoria japonesa dos 5 S". Feito isso guardemos o que é importante para nós e nos descartamos do que que só nos trás tristezas. Agora para isso temos que que determinação na hora de tomar estas decisões, que são muito importantes para nossa paz interior.pense nisso.

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