sábado, 13 de janeiro de 2018

A aceitação do inevitável

Nós, humanos, somos meros prisioneiros do desconhecido... Qual encarar a vaidade dos espelhos e admitir que sabemos que nada sabemos? De nada que sabemos vagamos feitos meros instrumentos do prazer nas praças da ilusão. Quer-se saber ainda que sabe nada, o que é tudo. Tudo. Invadir as vaidades e dominá-las, quando se é delas dominados. Heróis das antigas sagas dos que esqueceram as aparências e subiram intrépidos, quase sem forças mais, o rio do Tempo... Venceram a correnteza das horas diante da voragem do momento que escorria na velocidade intermitente das horas. Ser o não-ser, e ser. 

Esse o desafio da dança cósmica que dançamos, queiramos aceitar ou teimemos contra a sorte impessoal. Baixar a cabeça quando a incredulidade manda levantá-la e confrontar o Poder além de nós, menores detalhes do enorme descomunal, o poder Soberano que avança aos nacos de nadas que somos todos. Ser antiCristos quando o Cristo na cruz aceitou de bom grado sucumbir desfeito na aceitação da Verdade contundente. Amaciar no peito as dores do mundo e nunca mais perder de vista do eterno ser que somos sem saber ser. E saber significa compreender o incompreensível, enxergar o invisível, mergulhar a ausência de universo e desse jeito assim sorrir feitos criança. 

Apreender o fugidio na vasilha limitada da impessoalidade pura. Descobrir o mistério do insondável e agasalhar consigo o próprio vazio da matéria, ela que se esvai sem deixar rastros, pedaços de mim nas dobras do vento. 

Permanecer preso no que passa é passar e desaparecer. Coragem, dizem os fortes, a coragem que conta nos que sobrevivem; que representa bem isso de vencer a correnteza e subir o rio de volta à fonte; afrontar o pergaminho dos séculos e resistir ao abstrato que constrange as coisas, os corpos de carne, os edifícios de lama e aço. A fé, a vida verdadeira, o Reino. Disso foram mestres os primeiros cristãos, quando trocavam os corpos pelas chamas das fogueiras nos circos romanos. Olhavam o céu e nele viam os Céus. Envolver em si na beleza dos instantes e transformar em definitivo o sacrário da Consciência, código secreto dos místicos. 

Ir de bom grado ao objetivo lá além das estações que deixamos atrás. Abandonar o aparentemente verdadeiro e seus mil sabores, suas mil cores, mil sons, e abrir o peito aos ares silenciosos das ausências abissais. Largar os rochedos pela pureza do mar aberto de dentro de nós. 

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