quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Reféns da solidão

E nem adiantaria teimar contra as evidências. Pronde correr e lá estarão eles todos, eles, os dois: a máquina e seu vassalo fiel. São as pessoas na cata de si mesmas pelos corredores de longa estrada. Há espécie de cumplicidade, um pacto de relacionamento. Lembro nisso do conceito da Gestalt de que um mais um é sempre mais que dois. Esforço hercúleo em vias de amadurecer o fruto da vinha que descobriu brinquedo mágico de esconder a individualidade debaixo das sete capas do isolamento deste homem contemporâneo. Ver nas dobras da própria encruzilhada através das dores do viver assim...

Falar das tais maquinetas que dominaram o ser humano em dias atuais parece troço fácil, porquanto aonde olhar se ver os dois agarrados em pleno conúbio. Enfeitiçados pelas frestas dos equipamentos, a senhora viaja, a jovem sonha, o senhor negocia, o jovem obtém sucessos noturnos, e as crianças postulam meios ainda melhores de crescer, invés de repetir a perdição dos adultos, face aos engenhos de geração embriagada na luz virtual.

Somos nós os autores e as vítimas dos crimes da humanidade que custam incorporar fórmulas que libertem a dor e produzem os santos do amanhã. De dedos em punho, coçam as telas mágicas dos pequenos computadores, espécie de espelhos em que o futuro reflete a imagem dos aprendizes que ora formos de todos nós seres isolados na mísera invenção.

Embriões e chips dos teclados em fúria, eles cruzarão faroestes e florestas encantadas feitos cavaleiros andantes das artes de sobreviver a dramas que nem sabem ser verdades ou ficções, poemas ou romances, imaginação ou realidade teimosa do resistir. Seguem, no entanto, os traços do sonho entre dormindo e acordados, conduzidos aos porões do mistério pelas mãos invisíveis da solidão onde escolheram criar os heróis anônimos de depois.

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