quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Os três cavalos

Em um apólogo do escritor cearense Gustavo Barroso, li que viajavam por estradas desconhecidas do Sertão três animais de montaria: um cavalo velho e dois fogosos potros.

Trotaram, trotaram, até chegar numa encruzilhada, bifurcação de estrada para eles indefinida.

Sem saberem qual a alternativa correta lhes beneficiaria nos objetivos da viagem, iniciaram demorada consideração quanto ao caminho a tomar dali adiante. Cada potro, por sua vez, no afã da juventude dos animais cheios de energia, optava por um dos lados, enquanto o cavalo velho, matreiro, reticente, guardava forças a momentos melhores e reconhecia pouca disposição de realizar aventura, e buscar comprovar a certeza da dúvida daquele impasse. Ele ali permaneceria no mesmo lugar, enquanto os dois ferrenhos oponentes provariam na prática a execução das suas teses, e que esperaria o retorno daquele que errasse, porquanto quem acerta só deixa a lembrança de haver, um dia, vivido entre nós.

Assim aconteceu: Depois de longas horas de espera, volta potro que tomara uma das pernas de estrada, a da esquerda, ou a da direita (sei lá!), hoje não lembro mais. Todo latanhado de espinho, suado, sujo de lama e ofegante disse o cabisbaixo animal:

- Ele estava com razão. Sigamos, pois, a outra linha da estrada.

O cavalo velho, então, convida-o paternalmente para repousar um pouco antes de prosseguirem a jornada; e sentenciou:

- Os que erram ensinam duas vezes. Uma, quando decidem agir sem ainda dominar de tudo a situação, negando acomodação e indecisões. Outra, ao responder pelas consequências de recomeçar a tarefa, agora de um jeito provado e exemplo aos demais que apenas observavam a experiência da coragem de quem alimenta cumprir o seu papel de vida. 

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