domingo, 5 de outubro de 2014

As cores da cor

Depois das notas mais estridentes da velha sinfonia, nada restara senão abrir margem diante das reticências impostas e as circunstâncias. Baixar a vista dolorida e reconduzir os passos para onde ninguém ainda sabe.

Viessem contradições de acordo com datas previstas, e a Natureza romperia sua condição de mistério, revelando luzes sagradas do interior das coisas, segredos intransponíveis, pelo menos na fase atual da Humanidade. Sabe-se, no entanto, que pouco chega de jeito imaginado às tontas. Correr em forma de longos vôos, descer cachoeiras de sonhos, contornar obstáculos e subir as árvores do estio, que representam moldes reais da Criação.

Transpostas estivessem as provas, e sumiria o vigor do instante presente e suas probabilidades, esvaído ao peso do azul das horas, no céu da Primavera.

Quantas notas nos sons do coração, tons de verde no seio das matas, cicio de insetos, suaves murmúrios e pássaros a cruzar o teto da imaginação.

Na busca de reorganizar o infinito das entranhas, guerreiros inspiram forte o ar livre do firmamento. Houvesse dúvidas disso e se faria a ordem do Universo, o pulsar das têmporas, sinais infalíveis das certezas. Atravessar oceanos de possibilidades sem ferir as perspectivas do depois. Vistos assim de fora, tudo parece dizer que inexiste o vazio absoluto, lembrança clara de que simples gota d´água possui mares inteiros multiplicados em pérolas.

A troca de passadas traz ao destino certo. Em cada rastro, um ponto na cartilha do conhecimento. A soma dos alqueires da fortuna resulta no poder de quem pode e quer.

Essa cadência firme lustra veredas com a sola dos pés e forma o rosário da vida, estilo de gente construir os traços comuns neste chão. Nuvens brancas e barcos que balançam as ondas esmaltam de creme o espelho da paisagem, no fim de tarde, na praia em que sopra o frio vento que vem do mar. Areia molhada. Poucos banhistas. Saudade esvoaçante de gaivotas que vagueiam do vento, asas abertas e riscos pálidos que invadem os olhos acesos do observador atento.

Raras vezes houve tão doído coração, apertado no território exíguo do intervalo entre o peito impaciente e a flor da pele aos contatos do momento.

Após borrifarem as gotas de maresia, bóias expostas ao poente refletem o lilás das flores no canteiro central da avenida e refazem de néon o brilho da noite, combinação de cores acrílicas.

O conflito das gerações sacode as paredes desenhadas nos edifícios do bairro elegante, paz incontida e carrões prateados, que avançam de encontro à mão espalmada no asfalto da esquina.

Pouco a pouco, luzes de ouro amaciam o travo amargo. Novos elementos transformam planos, no indício de portas abertas aos próximos estágios da alvorada de bênçãos cor de rosa e alegres fanfarras...  

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