quinta-feira, 18 de setembro de 2014

O cheiro do cio

Depois de suspender por alguns meses o contraceptivo da cachorra, isso após ter a primeira cria, reapareceu nestes dias o seu período de fertilidade, o que manifestou na desobediência de sair precipitada à rua quando abríamos o portão. Já Duba, o cachorro, perdeu a costumeira compostura, indo quase ao desespero, pois resolvemos isolar a fêmea e superar por decurso de prazo o período fértil sem a tradicional reprodução dos mamíferos. A razão de não ministrar o anticoncepcional, utilizado em duas outras ocasiões, é que nos disseram que deixasse vir a menstruação de tempos em tempos, pois isso afasta risco de câncer, segundo os técnicos no assunto.

Pois bem, Duba, destarte, vive inferno astral de enormes proporções face ao isolamento com que se defronta. Quero admitir por conta de haver aguardado longa fase de degredo e, diante do fenômeno da parceira disponível, sofrer a restrição ao instinto animal. Chega perto de nos desconhecer ao isolá-los. Mesmo assim, mediante as insistências come a ração, porém de olhos presos à porta fechada do canil onde, temporariamente, fica Feiurinha, a cadela.

De comum, antes, ao abrir o portão principal, forçosamente devíamos prendê-lo, sob pena de correr desesperado pelas imediações; valente e bruto, sujeitaria brigar com outros cães ou agredir pessoas. Agora imagino até deixá-lo solto e ver se aproveitaria a chance de fugir. No entanto esqueço a possível experiência, uma vez que dirige sentidos e aflição na atenção exclusiva da libido. E avalio que todo o instinto de liberdade que o levasse a correr pelas ruas restaria bem menor do que a fome extrema de sexo da função reprodutiva que lhe toca. 

Dessas observações das feras advém interpretar as histórias neste chão, de quanta paixão move os povos, o tamanho de poder que a sexualidade movimenta no ímpeto de preservar a existência da carne. E as implicações no âmbito dos seres humanos, criativos e ambiciosos, a lutar contra limites impostos pela moral dos bons costumes, a revelar o valor da civilização, que administrar os tais instintos e reduz a carga primitiva das primeiras épocas dos tempos.   

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