quarta-feira, 23 de julho de 2014

A onça e a raposa

Naquele tempo quando os bichos falavam com mais facilidade entre si, apareceu vontade esquisita de a onça querer, no todo custo, experimentar o sabor de carne de raposa. Mas já se sabe o quanto a raposa significa astúcia e capacidade para fugir dos adversários, prática hoje mais praticada nos meios políticos dos homens do que mesmo entre os outros animais. 

Ainda que fosse tão difícil, porquanto a onça estudava um marketing que fosse de conquistar as graças da raposa e trazê-la aos seus dentes, a técnica adotada: Se fez de morta e tal dia apareceu estirada no escuro da floresta completamente imobilizada, respiração quase inexistente, só esperando a visita da cobiçada presa.

Logo a notícia ganhou corpo e cresceu de boca em boca, reunindo todos a respirar de alívio e cercar a fera imóvel, na intenção de prestar as derradeiras homenagens.

Enquanto isso, ladina, a raposa de longe, por trás da folhagem, prosseguiu desconfiada. Entra um, saí outro dos bichos, a desfilar diante do magnífico animal imobilizado. Então, a raposa perguntou: 

- Quantas vezes ela arrotou, minha gente? Pois quando alguém morre tem de arrotar. Aconteceu desse jeito com meu primo Guaxinim, e ele arrotou ao menos três vezes, o que sempre ocorrer com os que deixam este mundo. 

- E Dona Onça arrotou quantas vezes, pessoal? – Na hora, um fio gelado percorreu toda a cena. A bicharada parou apreensiva com os gritos da raposa escondida num tronco de visgueiro.

A onça, por sua vez, avaliava, também, as palavras da raposa. Pensou qualquer solução ao caso e disparou arroto bem forte, seguido este de mais dois outros.

Sem contar conversa, quem correu primeiro foi a raposa, de pronto acompanhada pelo tropel dos demais habitantes do vergel, fuga em massa que depois de tudo até agora repercute.  

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