quinta-feira, 25 de abril de 2013

Coisa Nostra


Lá na Bahia, década de 70, estudava no Curso de Comunicação da Universidade Federal. Desde adolescente nutrira o gosto pela fotografia, e se apresentava a oportunidade ideal de aperfeiçoar meus conhecimentos no assunto. Dispunha de equipamento profissional, câmara Pentax SP1000 com algumas objetivas variáveis. Ainda que apreciasse o trato da escrita, em Salvador escrevi pouco, só o necessário a cumprir as tarefas da escola. O interesse maior ficou por conta da fotografia. Havia duas disciplinas específicas da área, Fotojornalismo I e II, às quais dediquei com ênfase constante atenção.

Andava sempre com a máquina a tiracolo e fotografava quase todo dia. Em 1975, o ano de mais produção, devo ter reunido por volta de 500 a 600 imagens, cenas de ruas, praças, festas de largo, praias, folguedos populares, com prioridade em preto e branco, o que eu mesmo revelava em casa, onde possui pequeno laboratório.

Outros dois colegas também participavam desse entusiasmo pela arte fotográfica, Dilton Mascarenhas e Fábio Camelo, amigos sempre próximos, a realizar projetos diversos, porém integrados no objetivo comum. Nisso promovemos juntos uma exposição de nossos trabalhos na Escola de Arquitetura e em nossa própria Escola.

Além dessas mostras, compúnhamos o quadro de fotógrafos de um jornal mensal alternativa, o Coisa Nostra, fundado por Nildão, cartunista, poeta e designer paraibano vivendo na Bahia, e outros, que nos disponibilizava na derradeira página a coluna denominada Sem Pose, aonde os três, em edições diferentes, chegamos a divulgar as produções individuais.

Na edição que me coube usei fotografia que obtive quando, em dia de atividades normais do comércio, saí com Luís, um dos repórteres do jornal, à cata de matéria. Inexistia pauta prevista. A foto deveria representar cena de rua. E caminhávamos nas imediações da Baixa do Sapateiro, quando espécie de pé-de-vento correu pelo o ar, criando clima inesperado, envolvendo o espaço parecido com os redemoinhos do Sertão, e envolveu mulato baiano próximo da gente, que, de olhos fechados e qual em transe, começou a rodopiar a cabeça no chão enquanto seus pés e pernas abraçavam um poste da rede elétrica. A primeira impressão era que quisesse escalar, daquele jeito, o poste, isso ainda girando no solo, espécie de carrapeta humana com as pernas já no alto.

Luís me avisou: - É agora!

Rápido armei a câmara e em poucos segundos obtive a cena fotográfica que depois seria utilizada na contracapa do jornal. 

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