domingo, 14 de abril de 2013

Aqueles dias nebulosos


A parecença com o momento de agora fica por conta da dominação que sacode a área externa de mundo convulso e suas ameaças de guerra. Naquela fase, 1966, a bola da vez prenunciava escalada vietnamita de largas proporções, o que se verificou nos princípios da década de 70. O Brasil vivia de desânimo libertário, pois perdia espaço nas ruas, praças, escolas, o ímpeto de transformação democrática a sumir nos calabouços e na clandestinidade desesperadora.

Em Crato, achávamo-nos à frente do Grêmio Farias Brito, do Colégio Diocesano. Encenávamos a peça Um chalé à beira da estrada, sob a direção de Alzir Oliveira, nosso professor de História e amigo dos alunos. Declamávamos poemas modernos nas solenidades, através do Jogral Pasárgada, formado de sete componentes: Zadir, Pedro Antônio, Gilva, Eros Volúsia, Clenilson, Bebeto e eu.

Resolvemos, então, publicar um jornal mural, O bacamarte, depois ampliado a órgão mimeografado a tinta, o Nossa opinião, do qual tiraríamos até 100 cópias e ficou só nos dois primeiros números, abafado logo no seu nascedouro pelas ameaças daquele trágico período cinza.

Nesse mandato, estivemos ao lado de Aglézio de Brito, Presidente da União dos Estudantes do Crato, e de José Terto, Presidente do Grêmio do Colégio Estadual, em congresso do Centro dos Estudantes Secundaristas do Ceará - CESC, em Fortaleza, realizado sob fortes contenções da repressão.

Espírito de contestação impunha atitudes rebeldes à maioria de nós. De noite, após reuniões de acalorados debates e informações desencontradas, saíamos a pichar as paredes com dizeres políticos alusivos ao momento de expectativa, no fogo consumidor do turno da existência. 

É um tempo de guerra, é um tempo sem sol. É um tempo de guerra, é um tempo sem sol. Sem sol, sem sol, tem dó. Sem sol, sem sol, tem dó, eram alguns dos versos que cantávamos, em segundo plano, característica das apresentações do jogral. Enquanto Pedro Antônio, à frente, declamava em altos brados:

- Só quem não sabe das coisas é um homem capaz de rir! – seguindo com outras palavras de poema de Bertolt Brecht.

Esses alguns quadros da época em que partilhamos experiências culturais de um Crato fervilhante de jovens promessas e movimentações apreensivas, lembranças que retornaram ao reencontrar José Esmeraldo Gonçalves, velho amigo desse tempo quando, juntos, elaboramos o Nossa opinião de quantas esperanças. Ele que viera ao Cariri na ocasião do aniversário de 90 anos de sua genitora, dona Maria Lassalete Gonçalves Norões. Hoje mora no Rio de Janeiro e trabalha na mídia. Dispõe de raros intervalos semelhantes para voltar à Região e ver os amigos.  

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