Nós, cada um, pedaços deste todo, centros ambulantes do Universo. Às vezes quer-se saber o que se passa dentro das outras pessoas, e vem isso, de sermos todos estes um só e único ente igual a todos os demais. Testemunhas privilegiadas dos mesmos direitos e das mesmas obrigações perante o nascer e o morrer; o amanhecer e o anoitecer; acordar, comer, andar, trabalhar, sorrir, amar, sonhar, dormir, desaparecer. Frutos da árvore da existência, tocamos aqui os sentimentos e os pensamentos diante da enfieira das horas sem fim, amém. Nós, estes seres dotados de cabeça, tronco e membros; ramos do tronco da humanidade; lustres do teto do firmamento; chances de acertar nas loterias da inevitabilidade; descobrir a que veio; de como atravessar o rio do tempo e encarar o mistério eterno do movimento que carrega no peito, no pulsar dos corações insistentes. Grandes, pequenos, trajados, nus, gordos, magros, azuis, avermelhados, ricos, pobres, velhos, jovens, mulheres e homens; milhares de números em profusão às portas do Infinito. Da gente que lá um dia para, querendo as respostas que demoram de vir, e observar um por um olhares do destino dos dias na forma de pequenas gotas que caem e somem na justiça das interrogações. Quer saber o que acontece ali no íntimo das criaturas que andam nas ruas, nas praças, nos caminhos, idênticos nas buscas, aprendizes das escolas deste mundo vazio, quase felizes, ainda andarilhos dos céus em desejos perenes de paz, contudo existências acesas nas fogueiras da multidão de semelhantes, com nome, endereço, família; solidão a dois, no oceano da procura de si em si; conflitos que preenchem a pauta dos momentos, e disso jamais podem sequer pensar em fugir, que não tem aonde. Parceiros da sombra que deseja piamente clarear no transcorrer dos séculos, da ausência do pouso que tanto anseiam, na certeza da dúvida. Nós, cada um, pedaços deste todo, centros ambulantes do Universo.
(Ilustração: Composição VII, de Wassily Kandisky).
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